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Para ex-diretor, internet é algoz da MTV

Atual vice-presidente da TV Cultura, André Mantovani afirma que canal perdeu para a rede o papel vanguardista

Problema principal não é concorrência de conteúdo musical on-line, e sim a segmentação da mídia

KEILA JIMENEZ
COLUNISTA DA FOLHA

Sabe aquela ex-namorada por quem se nutre algum tipo de sentimento que não é amor? Parece ser essa a relação do ex-dirigente da MTV, André Mantovani, com a emissora musical.

Atual vice-presidente da TV Cultura, Mantovani, que ficou por 20 anos no Grupo Abril, quase metade deles como diretor-geral da MTV, sabe bem quais foram os anos áureos dessa relação.

Mas, como quase todo ex, aponta sem piedade os defeitos da amada.

Para ele, o algoz da MTV é mesmo a internet. E não por ser um novo canal para a exibição de videoclipes. Mantovani acha que a encruzilhada da emissora musical está em uma questão cultural: a perda da vanguarda.

"A MTV por anos ditou tendências na cultura pop. Foi assim no tempo do broadcasting, em que há um emissor de informação para vários receptores. Com a internet veio a segmentação. Todas as grandes mídias perderam força para as mídias sociais."

Foi o início de uma cultura em que as pessoas passaram a ser também influenciadas por seus contatos do Facebook e por blogs. "A MTV não é mais a primeira a falar aos jovens. Perdeu sua força."

E enquanto botava banca de gata mais moderninha da balada, a emissora foi lucrativa. Mantovani conta que de 2000 a 2007, a MTV faturou muito, sempre com um baixo custo operacional. "Nunca foi um canal de salários milionários, não é?", ironiza ele.

Segundo o executivo, a emissora começou a dar sinais de problemas financeiros no final de 2009. O faturamento caiu e o canal caminhava para entrar no vermelho. "Uma hora, a conta não fecharia mais. Mas não havia ainda o fantasma de venda."

Após ter um projeto de programação recusado pela Abril, grupo proprietário do canal, Mantovani deixou a emissora no final de 2010.

Vieram os cortes de gastos, demissões em série e o interesse da Abril em encontrar um comprador para a rede, negociações que ganharam corpo neste ano, com um grupo de investidores interessado no negócio.

A Abril nega que esteja negociando a venda do canal.

"Não creio que a MTV Brasil vá acabar. As pessoas que estão lá são muito competentes e podem reerguer a emissora", aposta Mantovani.

"Se a Abril vender a rede, a MTV americana [Viacom] pode manter a marcar no Brasil em outro canal. Teremos outros VMBs", prevê o diretor, que diz não querer voltar à ex, mas afirma sonhar com vida longa e feliz para ela.

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