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Trienal de artes na Alemanha ocupa fábricas desativadas

Complexos industriais que tomavam a região do vale do Ruhr foram transformados em palcos teatrais e espaços para instalações

MARCIO AQUILES
ENVIADO ESPECIAL A ESSEN, ALEMANHA

Há 20 anos, a região alemã do vale do Ruhr, que concentrava o maior complexo industrial europeu, iniciou uma grande transformação urbana. Siderúrgicas e minas de carvão desativadas começaram a ser cobiçadas por artistas interessados em seus espaços peculiares.

A Ruhrtriennale, festival internacional de artes que está em sua quarta edição e prossegue até 30 de setembro, catalisou o processo e apropriou-se desses parques industriais para aglutinar os mais ousados experimentos em arte contemporânea.

Trienal em sua curadoria, o festival convida, todos os anos, eminentes nomes da vanguarda artística para desenvolverem suas obras em fábricas ao estilo Bauhaus, galpões com ares decadentistas e seus arredores.

"Não queríamos apenas montar espetáculos e exposições dentro desses locais, a menos que houvesse interação com o ambiente", afirma Marietta Piekenbrock, curadora de dramaturgia.

"Os artistas foram convidados, visitaram as fábricas e as redondezas, para apenas então conceber suas instalações e performances", diz.

A vultosa encenação do espetáculo "Europeras 1 & 2", de John Cage, com suas 32 trocas de cenários previstas, seria inviável fora dos 9.000 metros quadrados do galpão Jahrhunderthalle.

O terreno adjacente a essa extinta usina foi ocupado pelo artista mexicano-canadense Rafael Lozano-Hemmer.

Conhecido por suas esculturas cinéticas e plataformas audiovisuais que evocam a participação do público, montou a instalação interativa "Pulse Park", seu 14º experimento da série "Relational Architecture".

Um sensor instalado na entrada do parque capta os batimentos cardíacos dos visitantes que o tocam.

Um programa computacional os converte em extensos feixes de luz -constituídos por 250 holofotes teatrais que cruzam todo o parque- e em sons rítmicos, ampliados e reverberados por caixas acústicas instaladas nas paredes de uma estrutura metálica que outrora armazenara elementos tóxicos da fábrica.

"A interatividade não está apenas em deixar o ritmo de seu coração controlar esse gigantesco mecanismo. Após sair dos sensores, as pessoas podem adentrar o parque e sentir o turbilhão de luz e som criados por seus batimentos", conta a diretora de artes urbanas Katja Assmann.

PARTICIPAÇÃO POPULAR

Embora composta por expoentes da arte contemporânea, a trienal de Ruhr valoriza o envolvimento da população local nesse processo de apropriação e transformação do extinto espaço fabril em sítios artísticos.

A dupla de artistas Folke Köbberling e Martin Kaltwasser, que construíra em Vancouver uma escavadora gigante usando lixo e material reaproveitado da Olimpíada de Inverno de 2010, desenvolveu para a trienal a instalação "Our CenturY" com ajuda de 200 voluntários locais.

O diretor italiano Romeo Castellucci concebeu para o festival o espetáculo "Folk" (povo) após conhecer as instalações da antiga metalúrgica Gebläsehalle, na cidade de Duisburg.

Inspirado pelo clima sombrio dos vastos salões, convocou pelos jornais cem cidadãos da região para criar sua obra, que tem como tema isolamento e sociabilidade.

"Convidei habitantes locais para encenar a peça e inseri-los indistintamente no mesmo espaço que o público em busca de novas formas de experiência antropológica", afirma Castelluci.

A artista israelense Michal Rovner, por outro lado, resolveu trabalhar a presença humana de maneira incorpórea.

Após filmar centenas de pessoas caminhando em direções aleatórias, ela criou projeções de suas sombras para ocupar as paredes da antiga fábrica de carvão Zollverein, na cidade de Essen.

"Nesta trienal, buscamos construir uma história que priorize elementos não linguísticos, inspirada nas artes visuais e em performances essencialmente não verbais, para celebrar o corpo humano em toda a sua complexidade", afirma Heiner Goebbels, curador da edição 2012/2014.

O jornalista MARCIO AQUILES viajou a convite da NRW KULTURSEKRETARIAT

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