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"Ser tocado à exaustão em bares não me faz menor", diz Djavan

Guardião do próprio estilo, compositor lança repertório inédito no CD "Rua dos Amores"

MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Parece papo antigo, do tempo em que ainda se ouvia discos música por música -e não faixas avulsas na internet ou no iPod, como hoje. Mas a ordem em que Djavan apresenta as canções de "Rua dos Amores", seu novo CD, fez toda a diferença no impacto que ele causa no ouvinte.

O álbum tem, de cara, meia dúzia de faixas com todos os elementos que reconhecemos como o "estilo Djavan": a batida sincopada do violão, o alongamento no final das frases melódicas, as letras que valorizam tanto o sentido das palavras quanto seu som.

Djavan está em sua zona de conforto, é o que parece.

Mas é tudo mentira. São muitos os temas menos "djavaneanos" no trabalho. "Ares Sutis", "Quinze Anos" e "Rua dos Amores", por exemplo, fogem completamente disso.

O problema é que eles só surgem lá para o final da audição, depois de a impressão de "mais do mesmo" ter se cristalizado nos ouvidos.

O artista diz que isso não é problema. Sabendo-se dono de obra tão pessoal, não se preocupa com a contemporaneidade das composições.

"Só me preocupo com a inventividade", diz. "Minha música não se dispõe a vender nada que não seja a emoção. Ou você gosta porque foi tocado por aquilo ou não gosta. Prefiro isso a esperar que encontrem no meu trabalho uma estética moderna."

A propósito, todas as canções do disco são novas. A maior parte delas foi composta há menos de seis meses. A mais velha, "Vive", é a única não inédita (foi lançada por Maria Bethânia em março). Sua versão tem potencial para tocar em novela, no rádio.

"Gosto de não ter uma música exatamente popular mas, apesar disso, ser um artista popular. Ter minha música executada tanto nos guetos quanto nos grandes salões é a glória. Ser tocado à exaustão em bares não me faz menor. Ao contrário: estou criando uma legião de pessoas que se reconhecem em mim."

Os imitadores de Djavan. Esse é um tema de que o músico parece querer se esquivar, mas que o persegue desde que estourou para o sucesso, ainda nos anos 1970.

Como todo artista que tenha criado um estilo particular -João Gilberto, Elis Regina, Raul Seixas, Roberto Carlos-, ele é dono de uma escola estética. Gerou filhos.

Também como aqueles, polariza opiniões. É amado por uns e odiado por outros. Afirma que essa divisão entre amantes e detratores, além de ser natural, é bem-vinda e muito estimulante.

"Quando não mais houver uma coisa assim é porque está deixando de haver as matrizes. E elas existem na música, na moda, em qualquer atividade. Matrizes que são intransferíveis, mas copiadas por muita gente. Elas são matrizes exatamente por isso."

Rua Dos Amores
ARTISTA Djavan
LANÇAMENTO Luanda/ Universal
QUANTO R$ 35, em média

O jornalista MARCUS PRETO viajou a convite da gravadora Universal Music

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