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Otávio Martins encena drama psicológico em monólogo

Com direção de Nelson Baskerville, 'Córtex' narra história trágica de homem que vira suspeito do desaparecimento da própria mulher

MARCOS GRINSPUM FERRAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"O córtex é uma parte do cérebro determinante para o funcionamento de três coisas absolutamente distintas: a memória, a imaginação e a abstração", explica o ator Otávio Martins.

São essas três faculdades mentais que se embaralham na cabeça -e consequentemente nas falas- do protagonista de "Córtex", monólogo de Franz Keppler dirigido por Nelson Baskerville, em cartaz no CCBB.

No palco, um homem narra, de modo fragmentado, a história de seu relacionamento amoroso e do misterioso desaparecimento de sua mulher -companheira que, aos 30 anos, viveu um intenso processo de degeneração física, se tornando "não mais ela, mas o que sobrou dela".

Após prestar queixa, o marido, confuso e apaixonado, acaba se transformando no principal suspeito do ocorrido -o que soa tão improvável, no início, mas se torna cada vez mais dúbio no decorrer da peça.

"Esse cara está o tempo todo se defendendo, e a única forma que ele tem de provar que não é culpado é mostrando o quanto ama ela", diz Martins, 42.

Ao mesmo tempo, o personagem parece tentar provar para si mesmo que a parceira -tão amada, mas que se tornou incapaz de lhe dar prazer ou até mesmo de se limpar sozinha- não se transformou em um fardo em sua vida.

Segundo Baskerville, não se trata de um personagem pensando alto, como ocorre em tantos monólogos, mas sim se comunicando diretamente com a plateia. Fatos e imaginação se misturam, e as falas somadas às projeções no fundo do palco deixam no ar o que é ou não é realidade.

"Não existe ali um mundo externo e um interno à sua mente. Está tudo junto", explica Martins. E Baskerville complementa: "Hoje não há mais imagem limpa no mundo, nossa percepção é fragmentada. E o meu teatro é assim, meio anti-Bob Wilson".

Apesar de cada um assinar uma função na peça, o diretor afirma que a criação de "Córtex" se deu de modo coletivo, ao longo de discussões e ensaios. "Todo mundo foi um pouco autor, diretor e ator", conta.

A iniciativa da produção, tomada por Martins, partiu de uma discussão sobre o papel da tragédia atualmente. "Tinha muita gente montando tragédias gregas, antigas, e nós começamos a pensar: mas o que seria esse gênero hoje? Como seria?"

Ao juntar o drama psicológico, a degeneração física, a acusação do desaparecimento, além de um passado mal resolvido do protagonista, Martins conclui: "É de fato uma tragédia. Uma puta de uma tragédia!".

CÓRTEX
QUANDO sex., às 20h, sáb., às 17h e 20h, dom., às 19h; até 4/11
ONDE CCBB (r. Álvares Penteado, 112; tel. 0/xx/11/3113-3651)
QUANTO R$ 6
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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