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Crítica romance "Uma Confraria de Tolos" ridiculariza a banalidade moderna Autor John Kennedy Toole cometeu suicídio em 1969, na época em que não conseguiu editora para sua obra ANDRÉ BARCINSKICRÍTICO DA FOLHA O escritor norte-americano John Kennedy Toole não viveu para ver o sucesso de "Uma Confraria de Tolos". Incapaz de conseguir uma editora para publicar o livro e sofrendo de graves crises de depressão, Toole cometeu suicídio em 1969, aos 31 anos. Sua mãe, Thelma, encontrou uma cópia do manuscrito entre os pertences do filho e brigou por muitos anos para conseguir uma editora. "Uma Confraria de Tolos" foi finalmente publicado nos Estados Unidos em 1980. No ano seguinte, Toole ganhou um Pulitzer póstumo. Desde então, o livro tornou-se um clássico "cult" da literatura satírica norte-americana, frequentemente comparado a obras de Mark Twain. A prosa ácida de Toole ganhou admiradores como o grande escritor chileno Roberto Bolaño, que citava o livro entre seus favoritos. "Uma Confraria de Tolos" começa com uma frase de Jonathan Swift, um dos autores prediletos de Toole: "Quando surge no mundo um verdadeiro gênio, pode-se identificá-lo por este sinal: contra ele se juntam em uma aliança todos os tolos". O personagem principal do livro, Ignatius J. Reilly, é um trintão obeso, glutão, flatulento e mal-humorado, que mora com a mãe e vive amaldiçoando o mundo moderno.
Ignatius leva a frase de Swift a sério: ele é um anti-herói, deslocado do mundo e nascido na época errada, que se considera sempre perseguido por uma cambada de idiotas. COMICIDADE "Uma Confraria de Tolos" se passa em New Orleans, nos EUA, nos anos 1960. É notável como Toole criou uma galeria de personagens cômicos inesquecíveis, mas que nunca se tornam folclóricos ou caricaturais. Seus encontros com "strippers", policiais incompetentes e idosos reacionários são engraçadíssimos. O personagem de Ignatius foi supostamente inspirado por um professor de Toole, mas tem muito de autobiográfico. Toole também sofreu com uma mãe dominadora e tinha uma visão ácida e pessimista do mundo. "Uma Confraria de Tolos" pode ser visto como uma metáfora ao deslocamento que muitos jovens norte-americanos vivenciavam nos anos 1960, período de conflitos sociais intensos no país. Ignatius é um cavaleiro solitário lutando contra um mundo que ele não entende e ao qual ele não acredita pertencer. É curioso pensar na recepção que o livro poderia ter tido se houvesse sido lançado nos anos 1960. Será que Ignatius se tornaria, para a década de 60, o que o personagem Holden Caulfield de Salinger foi para a de 50?
UMA CONFRARIA DE TOLOS |
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