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"Não quero mais ser visto como escritor de cadeia", diz Mendes

Autor de "Memórias de um Sobrevivente" lança livro de contos

DE SÃO PAULO

Aos 60 anos, completados em maio passado, Luiz Alberto Mendes considera que chegou a hora de ser considerado um escritor substantivo.

"Quero ser visto com um escritor mesmo, não um escritor de cadeia. Na USP, sou catalogado como literatura periférica. Mas faço literatura, não faço reportagem. Crio e recrio histórias", queixa-se.

"Cela Forte", seu primeiro livro de contos, marca na verdade o que Mendes acredita ser o divisor de águas.

É, ainda, um livro dominado pelo universo da cadeia e do crime. E, para reforçar o estigma, foi incluído pela editora Global no selo "Literatura Periférica".

Com prefácio de Marcelino Freire, intitulado "Um escritor de verdade", "Cela Forte" traz 26 narrativas, a maioria de teor autobiográfico.

É caso do conto que abre e batiza o volume, já incluído em coletâneas, sobre sua experiência numa solitária no Carandiru e a descoberta de que o vaso sanitário, ou "boi", era a porta para se comunicar com outros presos.

Há relatos sobre fugas, delação, sexo na cadeia, erros de advogados, a redescoberta da praia e uma reflexão filosófica sobre um mendigo.

Um dos mais poderosos é "Ultrapassagem", que narra uma perseguição policial e é aberto assim: "Quando as balas cortavam os carros ao meu redor como manteiga, era a mim que procuravam".

EMBU DAS ARTES

Mendes, que recebeu a reportagem em sua arrumada casa numa periferia pobre de Embu das Artes -vive num quarto nos fundos, e a ex-mulher e os dois filhos ocupam a casa da frente-, viu pela primeira vez anteontem a edição. Não ficou muito satisfeito. "Não tem orelha, não tem nada. Mas é bom porque ficou barato [R$ 19,90]."

O autor diz que é sua última experiência com essa temática. A penúltima, para ser exato, pois acaba de entregar à Companhia das Letras o terceiro capítulo de sua história atrás das grades.

O primeiro foi "Memórias de um Sobrevivente" (2001) sucedido por "Às Cegas" (2005). O terceiro volume irá até o dia em que deixou de vez a prisão, em 2004.

Mendes diz que tem vários romances sem vinculação com esse tema à espera de editora, além de poesia.

"Memórias..." abriu as portas para o ex-detento. É colunista da revista "Trip" há 11 anos, e há cinco mantém um blog no site da revista (revistatrip.uol.com.br/blogs/mundolivre).

Diz que são as duas atividades que o mantêm. Mas também viaja o país dando palestras e oficinas literárias.

"Tenho um objetivo. Pode parecer coisa de ego, mas não é. Quero me tornar um escritor internacional, ser traduzido para um monte de línguas, mostrar que qualquer pessoa, mesmo saindo do fundo de uma cela forte, pode chegar a qualquer lugar."

CELA FORTE
AUTOR Luiz Alberto Mendes
EDITORA Global
QUANTO R$ 19,90 (152 págs.)

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