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Perto do coração Biografia narra em detalhes vida de Matisse e conta como o artista francês criou obras revolucionárias
DE SÃO PAULO "Se minha história fosse contada em detalhes, deixaria espantados todos que a lessem", escreveu Henri Matisse. "Quando fui arrastado pela lama, nunca protestei. À medida que passa o tempo, cada vez mais me convenço de quanto fui injustiçado." Um dos artistas mais revolucionários da história da arte, o francês conhecido por suas telas berrantes, carregadas de cor, passou a vida sendo alvo de ataques de seus contemporâneos, que não entendiam aonde ele queria chegar com sua obsessão. Da fama de louco à consagração como líder da vanguarda parisiense no começo do século 20, a trajetória de Matisse está agora esmiuçada numa extensa biografia. Hilary Spurling, a autora de "Matisse, Uma Vida", que sai agora pela Cosac Naify, passou 12 anos fazendo entrevistas e visitando todos os pontos por onde o artista passou em busca da luz de suas obras, compondo um retrato minucioso de seu trabalho. Embora tenha quase 600 páginas, a versão brasileira do livro é a junção condensada de dois tomos originais escritos por Spurling, que considera essa a edição definitiva da obra, livre de excessos. "Uma biografia é um retrato da pessoa, como uma pintura", diz Spurling, em entrevista à Folha. "Mas, se estiver muito carregada de detalhes, é impossível chegar à essência do personagem." Matisse concordaria. "Quando fecho os olhos, consigo ver melhor do que com eles abertos", escreveu. "Vejo o tema despojado de detalhes incidentais -é isso o que pinto." Mas o artista manteve os olhos bem abertos para a luz radiante do sul da França, do Marrocos e até das ilhas do Pacífico para criar suas telas. Nascido numa zona industrial do norte da França em 1869, Matisse morreu em 1954 aclamado como o pintor do sul, que extraiu do sol do Mediterrâneo a luminosidade de seus trabalhos mais célebres, como "Dança" e "Música". Mas não foi uma rota sem percalços. Ele encarou a ira do pai, que discordava de sua decisão de ser artista, fugiu para Paris e acabou se decepcionando com um meio artístico incapaz de digerir a vanguarda dos impressionistas então em voga e muito menos de aceitar suas obras. "Era como chegar a um país onde se fala outra língua", escreveu Matisse. "Achava que seria incapaz de pintar." Essa dúvida prevaleceu ao longo de toda a carreira. Matisse se questionava o tempo todo e foi atacado por críticos da época pela "confusão deliberada" e "selvageria gratuita" de suas composições. Em crise, chegou a pensar em se matar. "Seu corpo reagia com violência a tudo que se interpunha entre ele e sua pintura", escreveu Spurling. "E isso ocorreu desde as misteriosas dores nas costas que o afligiam na adolescência." Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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