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Perto do coração

Biografia narra em detalhes vida de Matisse e conta como o artista francês criou obras revolucionárias

Fotos Divulgação
Henri Matisse em Nova York em retrato de 1930
Henri Matisse em Nova York em retrato de 1930

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

"Se minha história fosse contada em detalhes, deixaria espantados todos que a lessem", escreveu Henri Matisse. "Quando fui arrastado pela lama, nunca protestei. À medida que passa o tempo, cada vez mais me convenço de quanto fui injustiçado."

Um dos artistas mais revolucionários da história da arte, o francês conhecido por suas telas berrantes, carregadas de cor, passou a vida sendo alvo de ataques de seus contemporâneos, que não entendiam aonde ele queria chegar com sua obsessão.

Da fama de louco à consagração como líder da vanguarda parisiense no começo do século 20, a trajetória de Matisse está agora esmiuçada numa extensa biografia.

Hilary Spurling, a autora de "Matisse, Uma Vida", que sai agora pela Cosac Naify, passou 12 anos fazendo entrevistas e visitando todos os pontos por onde o artista passou em busca da luz de suas obras, compondo um retrato minucioso de seu trabalho.

Embora tenha quase 600 páginas, a versão brasileira do livro é a junção condensada de dois tomos originais escritos por Spurling, que considera essa a edição definitiva da obra, livre de excessos.

"Uma biografia é um retrato da pessoa, como uma pintura", diz Spurling, em entrevista à Folha. "Mas, se estiver muito carregada de detalhes, é impossível chegar à essência do personagem."

Matisse concordaria. "Quando fecho os olhos, consigo ver melhor do que com eles abertos", escreveu.

"Vejo o tema despojado de detalhes incidentais -é isso o que pinto."

Mas o artista manteve os olhos bem abertos para a luz radiante do sul da França, do Marrocos e até das ilhas do Pacífico para criar suas telas.

Nascido numa zona industrial do norte da França em 1869, Matisse morreu em 1954 aclamado como o pintor do sul, que extraiu do sol do Mediterrâneo a luminosidade de seus trabalhos mais célebres, como "Dança" e "Música".

Mas não foi uma rota sem percalços. Ele encarou a ira do pai, que discordava de sua decisão de ser artista, fugiu para Paris e acabou se decepcionando com um meio artístico incapaz de digerir a vanguarda dos impressionistas então em voga e muito menos de aceitar suas obras.

"Era como chegar a um país onde se fala outra língua", escreveu Matisse. "Achava que seria incapaz de pintar."

Essa dúvida prevaleceu ao longo de toda a carreira. Matisse se questionava o tempo todo e foi atacado por críticos da época pela "confusão deliberada" e "selvageria gratuita" de suas composições.

Em crise, chegou a pensar em se matar. "Seu corpo reagia com violência a tudo que se interpunha entre ele e sua pintura", escreveu Spurling. "E isso ocorreu desde as misteriosas dores nas costas que o afligiam na adolescência."

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