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Crítica biografia Confusa, autobiografia de Neil Young se perde em miudezas Espécie de diário sem ordem, livro fala pouco de passagens importantes ANDRÉ BARCINSKICRÍTICO DA FOLHA Dizem que todo crítico de música é um músico frustrado. "Neil Young - A Autobiografia" prova que a recíproca pode ser verdadeira: até um artista genial como Young pode ser um jornalista musical de qualidade duvidosa. O livro, que acaba de sair no Brasil, traz passagens inspiradas, mas é confuso, prolixo e pouco informativo. Para começar, Young optou por escrever sua história de forma não cronológica, em capítulos (são 68!) que viajam no tempo. Mas nem assim ele consegue se limitar a um determinado período. Um capítulo pode começar falando de sua infância no Canadá, dar um salto de 20 anos no tempo para tratar de sua obsessão por miniaturas de trens, e terminar com a descrição da gravação de um disco nos anos 2000. É muita informação. Young não parece muito preocupado em explicar ao leitor quem são as pessoas sobre as quais está falando. Figuras importantes em sua vida -familiares, músicos, produtores, empresários- surgem e somem da narrativa, muitas vezes sem uma descrição elucidativa para o leitor. Passagens fundamentais de sua carreira são contadas de forma superficial. A impressão é de que Young fez um diário, depois jogou todas as páginas no chão e colou-as no livro, sem nenhuma ordem.
Para os fãs, que já conhecem sua vida e obra, o livro traz passagens muito interessantes. Sua relação com a família -ele tem dois filhos com paralisia cerebral- é contada de maneira tocante, assim como o amor pelo pai, um famoso autor e jornalista canadense. Ele pouco fala da gravação de seus discos e passa superficialmente pelas lendárias brigas que teve com o grupo Buffalo Springfield e com Crosby, Stills & Nash. Em vez disso, o cantor e compositor dedica tempo demais falando de trens miniaturizados, de seu amor por carros velhos e de seu desgosto pela qualidade sofrível de MP3 e de música digital. Em alguns trechos, a tradução do livro não ajuda. A "Archives", uma monumental série de relançamentos de obras raras ou inéditas, foi traduzida por "projeto de arquivos", o que deixa o leitor boiando. O melhor livro sobre Neil Young ainda é "Shakey", de Jimmy McDonough, inédito no Brasil. O próprio Young colaborou com o autor por anos, para no fim processá-lo e tentar impedir a publicação. Se depender de Young -e de sua autobiografia- ele ainda continuará sendo um mistério para muitos.
NEIL YOUNG - A AUTOBIOGRAFIA |
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