Televisão

Talismã na TV, Saraceni volta à raiz no cinema

Mal saída de seu mais recente trabalho na Globo, a novela das 19h "Cheias de Charme", encerrada anteontem, Denise Saraceni já mergulha no cinema.

Amanhã, começa a trabalhar na pré-produção de "Pixinguinha, Um Homem Carinhoso". Com gravações previstas para janeiro, o filme retoma a história do autor do choro "Carinhoso", Alfredo da Rocha Vianna Filho (1897-1973), o Pixinguinha.

Única diretora de núcleo na Globo, cargo que ocupa há 12 anos, Saraceni de certo modo volta às raízes.

Ela começou como continuísta nos filmes do tio Paulo César (1933-2012), um dos criadores do cinema novo, nos anos 1970. Na TV, teve como mestres Ademar Guerra (1933-1993),Walter Avancini (1935-2001) e Paulo José.

"Entre todos os colegas da minha geração, fui a última a ser promovida. É claro que [na época] demorava mais para se confiar na capacidade de uma mulher", ela conta em entrevista à Folha, em seu escritório no Leblon, no Rio.

Em 2012, essa parece ser uma questão superada.

O prestígio da diretora é incontestável. "Cheias de Charme" manteve uma média de audiência considerada excelente para o horário das 19h: 30 pontos de ibope (cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande SP).

Na Globo, Saraceni é conhecida por dar sorte a novos talentos. Foi ela quem ajudou João Emanuel Carneiro -autor aclamado pela atual novela das 21h, "Avenida Brasil"- a alçar seu primeiro voo solo em "Da Cor do Pecado".

Sob sua batuta começaram ainda Maria Adelaide Amaral, Lícia Manzo e os autores de "Cheias de Charme", Felipe Miguez e Izabel de Oliveira.

"Além do talento e da competência, o melhor de ter um trabalho dirigido pela Denise é o clima de amizade e a solidariedade, impostos naturalmente", conta Amaral, que a acompanhou em seu primeiro trabalho como diretora de núcleo, a minissérie "A Muralha", em 2000.

O jeito de Denise desperta a paixão de atores, entre eles Fernanda Montenegro, que apareceu de surpresa na estreia de "Cheias de Charme". "Ela me disse que foi para dar força para os novos meninos."

PRÓXIMA APOSTA

Para o papel do protagonista de "Pixinguinha", Saraceni estuda chamar um jovem ator desconhecido, negro e esguio. Faz mistério sobre o nome, por ainda não ter fechado contrato com o rapaz.

"Eu gosto de trabalhar com jovens." Ela mostra à reportagem imagens do teste e explica que o moço é um achado.

"É impressionante a semelhança, não? Ele faz teatro em Nova Iguaçu [subúrbio do Rio]." O papel de mulher do músico será de Taís Araújo.

Após o longa, a diretora começa a trabalhar na adaptação de um de seus mentores.

Vai dirigir "Saramandaia", "remake" escalado para ficar no horário de "Gabriela" no ano que vem. A versão original, escrita por Dias Gomes, tinha como codiretor Walter Avancini, em 1976, e investia em temas fantásticos (como dona Redonda, a gorda que explode de tanto comer).

O texto será de Ricardo Linhares, com quem ela começa a trabalhar em março de 2013. O desafio será tornar a história relevante hoje, já que a trama tinha metáforas da ditadura. "Não vai ser uma história de época, mas sobre a aceitação do diferente."