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Grifes produzem minimalismo para tempos de crise

DA ENVIADA A PARIS

Em Paris, a moda é uma questão de herança.

E, nesta temporada, três das mais importantes "maisons" francesas mostraram de que maneira vão lustrar a prataria, tornando-a atraente aos olhos afoitos das consumidoras e factíveis do ponto de vista comercial.

A tendência, ou seja, o ponto de partida, é um novo minimalismo.

Limpo, mas que admite ornamentos que brinquem com o espaço. Que ama as linhas retas, mas descobriu a beleza das curvas e espirais.

Branco e preto, mas que sabe manipular as cores.

Luxuoso, mas adequado aos padrões de produção dos tempos de crise.

O estilista Raf Simons saiu da grife Jil Sander, minimalista à moda de sua criadora alemã, e assumiu a Dior.

Leu os arquivos de Christian Dior, aquele que quis proteger as mulheres no final da Segunda Guerra Mundial, dizendo a elas que o luxo ainda era possível.

Refez o "new look", a obra-prima do dono da casa. A famosa "bar jacket"(justa na cintura e que se abre sobre os quadris) virou blazers, blusas e vestidos, tudo sexy, jovem, fácil e prático.

Mas o designer também releu, com muita contenção, a obra do tio ovelha-negra, John Galliano, aquele que levou o glamour sonhado por Dior a patamares que fariam o senhor Christian corar.

A crise é a nova guerra para a moda, e Simons implementou um plano de economia muito eficaz.

Hedi Slimane, ex-Dior Homme, pegou a Yves Saint Laurent. Fez um desfile que esbarrou na caricatura grotesca, o que é de se entender diante do legado de um gênio da moda.

A coleção era estilo Kate Moss (Saint Laurent também sempre teve musas) vai a um festival de rock no deserto.

Muitas peças se parecem aliás com as coleções de Kate para a loja Topshop, mas, enfim, é ela quem deve a Saint Laurent, e não o contrário. Há muitos erros, mas também a semente de um YSL "rocker", que ainda deve trazer surpresas muito boas.

E então chega a vez da Chanel, com o incansável Karl Lagerfeld, que de novato não tem nada.

A passarela da vez no Grand Palais tem chão de retas que se cruzam e enormes moinhos de vento. Nas espirais do tempo, Coco Chanel, a "self-made-woman", revive a cada estação.

Ela é a pérola, ela é a milésima reedição do "vestidinho preto", ela é a última encarnação do terninho de trabalho. Ela é camélia refeita em forma de moinho, e a cantiga continua, cada vez mais vistosa e sedutora.

Na mágica mercadológica, tudo muda para que sua marca permaneça em voga.

Na guerra das casas, Lagerfeld é um herdeiro privilegiado. Dior foi um amante do luxo. Saint Laurent, um poeta.

Mas Chanel foi a primeira a perceber que a moda e seus ciclos refletiam as estruturas do sistema capitalista.

E ainda sabia cantar. (VW)

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