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Crítica Folk

Cohen emociona 15 mil em Madri

Em show de quatro horas, músico canadense tocou clássicos e temas do disco mais recente

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Um apelo aos nossos promotores de shows: por favor, alguma alma caridosa traga Leonard Cohen ao Brasil.

O cantor e compositor canadense, que acabou de completar 78 anos, está no meio de uma turnê mundial de seu mais recente disco, "Old

Ideas". E seu concerto é uma dessas experiências musicais inesquecíveis.

Na noite de quinta-feira, em Madri, Cohen hipnotizou uma plateia de 15 mil aficionados por quatro horas, numa verdadeira maratona de emoção, inspiração e virtuosismo musical.

O público retribuiu: abandonou as cadeiras e ouviu as últimas seis músicas em pé, gritando e batendo palmas, antes de presentear o ídolo com uma chuva de flores e bilhetes. Muita gente chorava.

Música pop não fica melhor que isso.

Assim que entrou no palco, Cohen, vestido impecavelmente de terno e chapéu, emocionou a plateia ao dizer: "Amigos, não sei quando voltaremos a nos encontrar. Por isso, vamos fazer desta noite um momento especial. Vamos dar a vocês tudo que temos".

E deram mesmo. Por exatas quatro horas (o show começou às 21h15 e terminou à 1h15, com um intervalo de 20 minutos), Leonard Cohen e uma banda de nove músicos, incluindo três cantoras e o extraordinário violonista catalão Javier Mas, tocaram 33 músicas para um público que incluía de adolescentes a idosos de 70 e 80 anos.

Cohen andava pelo palco saudando os músicos. Tirava o chapéu para as cantoras e ajoelhava ao lado dos músicos a cada solo.

Sua voz, embora não tenha mais a potência de outros tempos, ainda consegue emocionar. Seu fraseado é perfeito, e a maneira como canta, ora sussurrando, ora narrando, é única e inimitável.

Como ele próprio diz em "Tower of Song": "Eu nasci assim, não tive escolha / Eu fui abençoado com uma voz de ouro".

Suas limitações físicas ficam evidentes: em algumas canções, como "The Gypsy's Wife", "Coming Back to You" e "Alexandra Leaving", ele nem canta; fica apenas admirando as cantoras.

No fim do show, estava visivelmente cansado. Mas a plateia, percebendo seu esforço, o aplaudia ainda mais.

O repertório foi irretocável. Clássicos como "Dance Me To The End of Love", "Bird on the Wire" e "Suzanne" se misturaram a canções do último disco e a raridades, como "The Guests", que ele não havia tocado nessa turnê. O público conhecia e cantava todas as músicas.

A sequência de "I'm Your Man", "Hallelujah" e "Take This Waltz" fez o público inteiro levantar das cadeiras e assim ficar até o fim do show, meia hora depois.

A apresentação foi envolta numa comovente sensação de despedida.

Ao final, Cohen disse: "Espero, de coração, que possamos nos encontrar novamente", antes de liderar a banda numa linda versão de "Save the Last Dance for Me", do The Drifters. Um encerramento perfeito para uma noite perfeita.

Fica novamente o pedido: por favor, alguém traga esse sujeito ao Brasil, antes que seja tarde demais. Um show desses não tem preço.

LEONARD COHEN

AVALIAÇÃO ótimo

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