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Crítica teatro

Parceria russo-brasileira cria ótima adaptação de clássico

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Conversa de russos. "Pais e Filhos" é uma adaptação de Adolf Shapiro do romance de Ivan Turguêniev (1818-83). O diretor russo domina o método de preparar atores do compatriota Constantin Stanislásvski (1863-1938) e priorizou na encenação aplicar aquela técnica aos intérpretes da Companhia Mundana.

Turguêniev escreveu "Pais e Filhos" em 1862, refletindo um momento de transição na Rússia do século 19, em que bafejavam os ventos do capitalismo numa economia ainda feudal. Ideias positivistas e o racionalismo burguês encantavam os jovens, que se diziam niilistas e passavam a negar as gerações mais velhas.

Poucos livros daquele país tiveram tanta repercussão quanto este, pois, não tomando exatamente partido, mas revelando com grande sensibilidade as atitudes extremas dos dois lados, Turguêniev desagradou a todos. O escritor preferiu se exilar na Alemanha para escapar das pressões que passou a sofrer.

A montagem de Shapiro tem o mérito de materializar cenicamente a obra-prima literária, contando só com uma trupe aplicada, disposta a assimilar seus ensinamentos.

Mais do que enfatizar a narrativa (o retorno de um jovem à região de origem no interior), o diretor instaura situações plenas de vivacidade, em que os atuantes podem exercitar-se no naturalismo stanislavskiano.

A cenografia de Laura Vinci desenhou um espaço despido de objetos supérfluos e com único elemento dominante: um imenso e felpudo tapete branco. A livre circulação dos atuantes em torno desse eixo faz com que o avanço da trama se dê com leveza e de forma ágil, ocupando-o com cenas de distintos tempos e ambientes.

Colabora também a iluminação de Cibele Forjaz e Warner Antônio, que cria farta variação de atmosferas sobre esse piso propício a refletir luzes. As transições de luz quase sempre emolduram estados de alma dos personagens.

Dos 12 atores e atrizes da Mundana, entre veteranos e estreantes, todos parecem irmanados sob uma rigorosa condução do diretor, que demarca os mínimos impulsos de suas ações. Desempenhos mais e menos felizes, se tomados individualmente, alcançam no conjunto um evidente salto de qualidade no trabalho da companhia.

O espetáculo, fincado em um texto que por si só vale o ingresso, justifica-se de fato por esse esforço coletivo, que consagra, afinal, uma produção russo-brasileira.

PAIS E FILHOS
QUANDO sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 11/11
ONDE Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom

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