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Novo Nobel já foi desprezado em Frankfurt

Considerado conivente com regime chinês, Mo Yan teve seus livros recusados por várias editoras na feira de 2009

Editores brasileiros dizem que pouca cultura de tradução é entrave para publicar autores de alguns idiomas

RAQUEL COZER
ENVIADA ESPECIAL A FRANKFURT

Em 2009, por ocasião da homenagem à China na Feira de Frankfurt, a tradutora alemã Karin Betz sugeriu livros de Mo Yan a várias editoras. Todas recusaram.

A razão foi justamente a participação de Mo Yan na feira, onde justificou seu posicionamento político afirmando que um escritor deveria ser julgado apenas por seus trabalhos.

"Ele foi visto como um escritor pró-Estado; os editores não quiseram. Não convenci ninguém, mas isso vai mudar agora", disse Karin à Folha, ontem, no estande da Suhrkamp, onde dois exemplares da tradução de "Taixiang Xing" foram estrategicamente expostos após o anúncio do Nobel.

Antes da feira de 2009, a respeitada editora alemã tinha comprado o direito dos romances, sobre o declínio da dinastia Chin.

Karin prefere não definir o autor como pró-governo. "Ele não corre o risco de ser banido, mas trata de questões políticas amplas, de tortura e injustiça", diz.

Olivier Bétourné, editor de Mo Yan na França -o chinês tem 12 livros pela Seuil-, concorda. "Ele é um escritor poderoso, divertido. E muito crítico, mas é uma crítica que se lê nas entrelinhas."

E é também um autor com algum potencial comercial, diz ele : seus livros têm sempre as tiragens, de 5.000 a 6.000 cópias, esgotadas.

Na terra natal ele faz muito mais sucesso. Wang Weisong, da editora de Mo Yan na China, a Shanghai Century, conta que o livro mais recente, "Wa" (2009), teve 100 mil exemplares vendidos no país.

Ontem, na Feira de Frankfurt, Weisong era só sorrisos. Desde o começo do evento, como a casa de apostas inglesa Ladbrokes colocava Mo Yan entre os mais cotados ao Nobel, muitos editores fizeram ofertas pelo livro.

Nenhum negócio foi fechado antes do anúncio. "Agora o passe dele vale mais", disse Weisong, que providenciou um cartaz para divulgar o Nobel e "Wa", seu único livro disponível no estande.

Ficará mais caro também para o editor que resolver publicar Mo Yan no Brasil, país onde nunca atraiu interesse.

Assim como o chinês, vários vencedores do Nobel eram inéditos no Brasil por ocasião da premiação -caso, entre outros, de Elfriede Jelinek em 2004 e de Tomas Tranströmer no ano passado.

Para o editor Samuel Titan Jr., do Instituto Moreira Salles, isso reflete a "falta de uma cultura de tradução no Brasil que vá além do óbvio".

"Em países como a França, o tradutor sugere títulos, aqui ele funciona a reboque do que a editora oferece."

Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, diz que é difícil achar avaliadores para obras de idiomas como o chinês. "É impossível dar conta de toda boa literatura que há no mundo", resume.

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