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Para filósofo francês, psicanálise é 'lenda'

Michel Onfray fez anteontem à noite, em São Paulo, penúltima conferência do ciclo Fronteiras do Pensamento 2012

Autor prolífico procura desmitificar vida e obra de pensadores como Freud, tema de livro que publicou em 2010

DE SÃO PAULO

O controverso filósofo francês Michel Onfray, 53, fez na noite de quarta, na sala São Paulo, a penúltima conferência do ciclo 2012 do Fronteiras do Pensamento.

Conhecido por uma filosofia que procura desmitificar pensadores como Platão e Kant, submetendo suas vidas e obras a métodos desconstrutivistas, o autor discorreu sobre um de seus livros mais recentes, "Le Crépuscule d'une Idole, l'Affabulation Freudienne" (o crepúsculo de um ídolo, a fabulação freudiana), de 2010.

Na palestra intitulada "Sem Freud...", o filósofo analisou o percurso biográfico e teórico do austríaco.

"A psicanálise é uma lenda. Freud acredita que a partir de suas introspecções pessoais descobriu a verdade universal do inconsciente."

Para Onfray, Freud "generalizou o próprio desejo sexual pela mãe e o impulso de matar o pai para toda a humanidade". "O complexo de Édipo pode ser operatório para o caso dele, e não para todos os habitantes do planeta."

Onfray disse que não veria problemas se as teorias freudianas fossem apenas especulações filosóficas, mas que, a partir do momento em que os tratamentos psicanalíticos tomam o dinheiro das pessoas, sem curas comprovadas que ultrapassem as estatísticas do efeito placebo, é função dele, como filósofo, contestar essas verdades.

"A psicanálise funciona como uma religião e está na hora de desconstruí-la, como todas as outras religiões. Freud quis transformar alegoria em verdade científica."

O pensador explicou como seu procedimento filosófico se contrapõe aos métodos estruturalistas franceses tradicionais, que analisam o texto independente do contexto.

"Eu trabalho com o que chamo de desconstrução existencial. Meu método consiste em fazer uma leitura cronológica total da obra dos autores, depois, da íntegra de suas correspondências, e, por fim, das biografias."

Com base nesse processo sistemático, Onfray desenvolve hipóteses que dão sustentação à maneira sagaz como tece novas teorias e propõe um revisionismo radical da história do pensamento.

Uma de suas obras mais conhecidas é "Contra-história da Filosofia" (editada no país pela WMF Martins Fontes).

"A historiografia que pratico consiste em desconstruir uma série de lendas, a fim de reconstruir uma coisa nova."

Autor de mais de 50 títulos e fundador da Universidade Popular de Caen, gratuita e de acesso livre, Onfray foi alvo de reações exaltadas na França quando lançou seu volume sobre Freud.

"Chamaram-me de antissemita, pedófilo enrustido, fascista, disseram que eu não tinha lido Freud, anunciaram a minha morte, pediram o fechamento da Universidade de Caen e quiseram censurar o meu curso na rádio France Culture", comenta.

Este tipo de reação, em um país onde a psicanálise é bastante difundida e canonizada, incita ainda mais as provocações do autor. "Há psicanalistas incultos em psicanálise. Não leram nem sequer as correspondências de Freud e reivindicam conhecimento de causa."

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