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Livro traça narrativa de John Lennon por meio de suas cartas

Novo título também reúne bilhetes, listas e autógrafos do ex-beatle, que na terça passada completaria 72 anos

Volume recém-lançado foi organizado por Hunter Davies, amigo de Yoko Ono e autor de biografia dos Beatles

MÁRCIO CRUZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O talento de John Lennon para as palavras é bem conhecido do mundo pop. Dos versos adolescentes de "Help" aos hinos pacifistas de sua vida adulta, como "Imagine", conseguiu cravar em canções os sonhos da juventude do pós-Guerra.

Autor da única biografia autorizada dos Beatles ("A Vida dos Beatles", de 1968), Hunter Davies aproveitou-se de sua amizade com Yoko Ono, viúva de Lennon (ela assina o prefácio), para convencê-la de que seria capaz de traçar uma narrativa do artista por meio de seus escritos.

O resultado está em "As Cartas de John Lennon", livro com coleção de documentos escritos pelo ex-beatle, lançado mundialmente na última terça, data em que o músico faria 72 anos.

Segundo Davies, que falou à Folha por e-mail, a principal motivação veio do ineditismo do material, nunca antes publicado em livro.

"As Cartas de John Lennon" traz, em 23 partes, 285 documentos em ordem cronológica, de 1951 a 1980. São bilhetes, notas, autógrafos, cartas manuscritas e datilografadas, além de listas de compras e instruções para os empregados do luxuoso edifício de Nova York Dakota, onde viveu de 1973 até sua morte, em dezembro de 1980.

"Foi uma surpresa o fato de ele ainda estar em busca [de algo] até o fim e sua nostalgia pela vida na Inglaterra e na Escócia", diz Davies.

A primeira carta é um agradecimento à tia Harriet pelos presentes de natal (um livro, uma toalha e um pulôver) escrita em um cartão-postal quando ele tinha 11 anos.
As cartas endereçadas a fãs começam a partir da excursão de Hamburgo, três séries de shows realizados pelos Beatles em 1960, 1961 e 1962.

Ao fim desse período, ao voltar para a Inglaterra, eles deslancharam. É dessa época uma longa carta à Cynthia -com quem se casaria e teria seu primeiro filho, Julian-, em que comenta a morte de Stuart Sutcliffe, em abril de 1961, quando o baixista original dos Beatles já havia deixado o grupo para se casar e ser artista plástico.

"Não vi Astrid [noiva de Stuart] desde o dia em que chegamos. Pensei em ir vê-la, mas eu ficaria constrangido."

Ali aparecem também as manobras para não revelar seu estado civil, algo que no olhar do empresário poderia afastar o público feminino. John não seguiu a orientação em pelo menos uma delas, escrita a uma fã em 1963.

"Em resposta à sua pergunta, sim, sou casado, e o nome da minha mulher é Cyndi. E também temos um filhinho."

Os detratores de McCartney nas brigas entre os dois beatles podem encontrar mais motivação de sua predileção por John no capítulo "Problemas com Paul", com inflamadas cartas que descrevem disputa nos negócios e trocas de farpas na imprensa sobre o lançamento dos primeiros trabalhos dos casais Paul e Linda e John e Yoko.

CARTAS DE AMOR

Embora seja difícil de acreditar, Davies afirma na introdução que não havia cartas de John para Yoko devido ao tempo considerável que eles passavam um na companhia do outro ou por elas terem simplesmente se perdido.

Com o lançamento de "Two Virgins" (1968), ele passa a assinar as correspondências com caricaturas dele e da mulher, escrito "John e Yoko".

A partir de 1973, Lennon aumenta a produção de cartas datilografadas, o que torna mais fácil a leitura dos originais. "Espero que a datilografia não esteja irritando... Minha letra é ilegível", diz em carta à meia-irmã Jackie.

Em uma divertida carta ao amigo Derek Taylor, ele especula sobre o nome do garoto. "P.S. como soa Dylan Ono Lennon procê...?"

Vivendo em Nova York, Lennon se envolveu em diversas lutas políticas. Suas cartas de apoio e apelos eram vistos como um endosso valioso a essas causas. Algumas delas tinham uma bandeira íntima, como uma mexida de pauzinhos em favor da esposa.

"Caro Joe, (...) por favor ouça a faixa de 'Yoko Ono/Plastic Ono Band' chamada 'AOS', que foi gravada em 1968 [pré-Lennon/Beatles!] com ORNETTE COLEMAN no Albert Hall, em Londres, pode chamá-la de FORMA LIVRE, de todo modo Yoko está bem no meio da vanguarda", escreve em carta para um jornalista.

Em 1976, Lennon recebe o Green Card após anos de batalhas contra a extradição. Ele então viaja à Inglaterra para visitar parentes, incluindo a tia Mimi, com quem vive relação maternal tempestuosa.

Com o passar dos anos, a preocupação com a família é evidente, mas Lennon se mostra mais afável. "Querida Leila, Woddy Allen, comediante americano, diz que vivemos em dois estados. INFELIZ E HORRÍVEL!!! Fico contente de ouvir que você está num bom momento 'infeliz'!!!", escreveu à prima.

Quando retorna à Nova York, ele inicia a gravação de "Double Fantasy". Sua rotina pode então ser apreciada por meio das instruções para Fred Seaman, espécie de mordomo e assistente pessoal.

Seu último autógrafo foi dado a um sujeito na frente do Dakota, quando saía com Yoko. Horas depois, o destinatário, Mark Chapman, o assassinou com quatro tiros.

AS CARTAS DE JOHN LENNON
ORGANIZAÇÃO Hunter Davis
EDITORA Planeta do Brasil
TRADUÇÃO Carlos S. Mendes Rosa
QUANTO R$ 59,90 (400 págs.)

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