Trilogia de curtas celebra a esperança de Charles Chaplin

Sem casa, família ou sustento, o vagabundo eternizado por Charles Chaplin busca a única felicidade que lhe é possível: o sorriso de quem dele se aproxima.

Em "Festival Carlitos", a esperança do personagem pode estar em um cão abandonado ou na paz vencendo a guerra.

A coletânea de curtas é o sexto volume da Coleção Folha Charles Chaplin, que chega às bancas no próximo domingo, 21/10.

O volume reúne três filmes do artista: "Vida de Cachorro", "Ombros, Armas!" e "Pastor das Almas", concebidos entre 1918 e 1923.

Os três títulos foram originalmente agrupados por ele em 1959 para compor um único longa-metragem. Em comum, eles possuem o fato de serem os primeiros filmes do artista feitos em estúdio próprio, sem depender do aval de grandes produtoras.

Em "Vida de Cachorro", o vagabundo vive nas ruas, cometendo pequenos furtos. Perseguido pela polícia, ele busca um emprego.

O cão, por sua vez, também luta para sobreviver. É essa realidade que faz com que os dois se aproximem. A cena em que Carlitos joga cartas com dois ladrões é considerada pela crítica uma das mais completas do cinema.

"O filme assinala o momento da perfeita identificação entre criador e criatura. Representa a mais alta poesia", disse o crítico italiano Luigi Chiarini, em 1948.

Em seguida, em "Ombros, Armas!", Chaplin abre mão do figurino de Carlitos para discutir as incoerências de seu tempo, ao interpretar um soldado que escapa do inimigo e consegue selar a paz.

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) lhe serviu mais tarde de inspiração para as cenas iniciais do corrosivo "O Grande Ditador" (1941).

Já em "Pastor das Almas", que encerra o volume, Chaplin satiriza o conservadorismo da chamada "América profunda", ao mostrar um atrapalhado fugitivo da lei que se disfarça de religioso.