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Crítica romance

Narrativa de "Os Hungareses" está aquém de sua temática

Livro venceu Prêmio SP de Literatura 2012 na categoria romance de estreia

NOEMI JAFFE
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Os Hungareses", vencedor do Prêmio SP de Literatura deste ano na categoria romance de estreia, é uma história de "peregrinos gregários", como o próprio livro denomina os ciganos que um dia acorreram em massa a uma aldeia no interior da Hungria.

São, fundamentalmente, personagens errantes que, apesar de sua inconstância, estão sempre atrás de algum tipo de pertencimento.

Habitantes de uma pequena cidade húngara, que um dia passa ao controle da antiga Iugoslávia, são proibidos de falar sua língua natal, o que os obriga a aguçarem os outros sentidos -olfato, paladar e audição.

Rosália, a personagem principal, e mais Rosza, Maria, Gedeon, Jószef e Imre são todos peregrinos que, por razões distintas, não aceitam limites fixos e estão sempre partindo em busca do desconhecido e do novo.

Mas, por caminhos tortuosos e misteriosos, também estão sempre voltando, até chegarem ao Brasil onde, finalmente, se estabelecem no sítio dos "Hungareses". Ali, reproduzem em parte os hábitos e a cultura húngara, criando uma comunidade singular no interior do país.

A história, as idas e vindas, o destino e a índole "cigana" de um grupo de húngaros no Brasil são todos cativantes, tanto do ponto de vista histórico quanto do ficcional, já que o romance equilibra invenção e realidade. A narrativa, entretanto, não alcança o mesmo interesse da temática.

O duplo foco narrativo, feito principalmente pela filha da protagonista, mas entremeado de falas de sua mãe, Rosália, é explorado de forma pouco imaginativa: as entradas da mãe, que poderiam dar um sentido polifônico ao romance, são como paráfrases da trama contada pela filha.

Essa trama, por sua vez - a própria história da formação dos "Hungareses"- é constantemente representada pela metáfora da costura, da tessitura, dos fios, um recurso já bem conhecido: "seguindo o fio dos relatos"; "costurar bem costurada a história"; "entrelaçar fios invisíveis com os dedos"; "a infindável teia que a conduzia"; "os fios do destino que vão se emaranhando", dentre inúmeros exemplos.

Já os personagens, quase todos bastante densos e complexos, são muito parecidos em suas melancolias e inadaptações, o que acaba subtraindo suas individualidades.

A estrutura da narrativa poderia ter coincidido mais e melhor com os aspectos mágicos e poéticos dessa comunidade que teve sua voz sequestrada e que, pelos descaminhos do século passado, veio parar no Brasil.

NOEMI JAFFE é doutora em literatura brasileira pela USP e autora de "Quando Nada Está Acontecendo" (Martins).

OS HUNGARESES
AUTORA Suzana Montoro
EDITORA Ofício das Palavras
QUANTO R$ 30 (192 págs.)
AVALIAÇÃO regular

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