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36ª Mostra de SP

Italiano discute obsessão pelo 'Big Brother'

Comédia dramática do diretor de 'Gomorra' venceu o Grand Prix no último Festival de Cannes

O protagonista do longa, Aniello Arena, está preso por assassinato, mas teve permissão para filmar

RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO

Como partir para um novo projeto depois de dirigir um projeto polêmico sobre a máfia napolitana?

Essa era a grande questão na mente do cineasta italiano Matteo Garrone nestes últimos quatro anos, desde que finalizou "Gomorra", em 2008, e reapareceu com o novo "Reality", um dos destaques da Mostra de São Paulo.

"Eu estava procurando um assunto tão forte quanto o que tinha em 'Gomorra' e foi o começo do desastre", brinca o diretor em entrevista à Folha. "Eu não conseguia achar o tema e o tempo passava rápido."

A luz do fim do túnel só apareceu em 2010, quando Garrone notou a cultura de obsessão que o programa "Big Brother" gerava na Itália -e, como bem sabemos, não apenas na Itália.

Ele, então, veio com a ideia de escrever sobre um homem de classe média baixa que acredita estar entre os nomes selecionados para a edição seguinte do reality show.

"Muitas pessoas acreditam que a realidade da TV é a única que existe. Então, se você aparece nela, significa que está vivo. Isso atraiu minha atenção", conta o italiano, que conseguiu permissão dos produtores para usar a marca "Big Brother".

"Eles não acharam que faria mal à imagem do programa. Até pensamos em inventar um título fictício, mas o que importava era a metáfora do sonho de paraíso que a TV promete ao cidadão."

Na comédia dramática, Garrone conta a história de Luciano (Aniello Arena), um vendedor boa praça, que começa a entrar em paranoia depois de fazer um teste -ironicamente, na Cinecittà, o mais famoso estúdio romano- para o "Big Brother".

"Não quis fazer um filme de denúncia contra a televisão. Eu desejava criar um longa que misturasse realidade e fantasia com um toque mais sombrio sobre a fama", conta o diretor.

"[O diretor Pier Paolo] Pasolini já falava sobre a perda de identidade e a massificação gerada pela TV nos anos 70. Então, o assunto não seria novo."

ATOR NA PRISÃO

Garrone ganhou uma ajuda essencial para alcançar seus objetivos metafísicos com a presença do ator Aniello Arena.

Encarcerado há 20 anos por duplo homicídio na prisão de Volterra, em Pisa, Arena faz parte do premiado grupo de teatro Compagnia della Fortezza, composta por detentos.

Ele foi chamado por Garrone para um papel em "Gomorra", mas o juiz não o liberou por causa do tema, já que o ator, foi condenado, em 1993, à prisão perpétua pelos assassinatos cometidos em uma guerra entre clãs da máfia.

O ator finalmente recebeu permissão para filmar fora das grades e foi aclamado no último festival de Cannes -não levou o prêmio, mas o filme foi o vencedor do Grand Prix, correspondente a uma medalha de prata.

"Ele trouxe algo único para o personagem, porque ele descobre o mundo como uma criança após tanto tempo na cadeia", explica Garrone. "Quando Luciano entra em uma boate pela primeira vez, Aniello está interpretando, mas também há um sentimento real."

Reality

QUANDO hoje, às 21h30
ONDE Espaço Itaú de Cinema Pompéia 9 (R. Turiassu, 2.100, Pompéia; Tel.: 0/xx/11 3673-3949)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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