Crítica Drama

Novo longa de Matteo Garrone analisa as formas da realidade

O título em inglês do filme de Matteo Garrone fornece a chave para entender que realidade, se ainda há, é outra, obedece a outras regras.

Ao contrário de uma tendência contemporânea, Garrone parece não enxergar mais meios para recorrer à abordagem neorrealista de seus antecessores, pois a realidade que eles buscavam transformou-se em "reality".

O início dessa mutação foi captada por Visconti e Fellini, em filmes como "Belissima" e "Ginger & Fred", nos quais vimos o cenário se impor à cena, os personagens substituírem as pessoas.

Quando o peixeiro Luciano se encanta pelo espetáculo a ponto de virar presa desse labirinto, ele faz um caminho inverso aos dos personagens daquele cinema. Em vez de tomada de consciência, Luciano experimenta sua perda.

Em "Gomorra", a violência se tornava lei, em "Reality" o imaginário é que violenta.

Muito mais que crítica ao fascínio do "reality show" ou à sociedade do espetáculo, a inteligência de "Reality" consiste em nos devolver uma pergunta que nunca deixa de inquietar: é isto um homem?