Texto Anterior
|
Próximo Texto
| Índice | Comunicar Erros
36ª Mostra de SP - Crítica / Drama 'A Caça' é prisioneiro de maneirismos Drama de Vinterberg não vai além da obsessão do diretor pela perversidade INÁCIO ARAUJOCRÍTICO DA FOLHA Filmes de Thomas Vinterberg oscilam entre a perversidade e a depressão. Ambos, se possível. "A Caça" não foge a essa escrita, ao tratar do terrível drama de Lucas, funcionário de um jardim de infância que, pouco antes de receber a guarda do filho, é acusado de abusar sexualmente de uma criança. É acusado, claro, pela criança. Ou ainda: o que o acusa, mais evidentemente, é a crença de que crianças não mentem. E, de modo profundo, a crença de que crianças desconhecem a sexualidade (ou a descrença em Freud). É possível, porém, que tudo isso tenha pouca importância para Vinterberg. Para ele, o que mais conta são os sinais de que o homem é irremissivelmente perverso. Isso não se deixa ler no rosto da menina que o acusa -ele é puro mistério-, mas sim no dos adultos, que endossam a acusação e fazem o possível para levá-la adiante. O que se segue é um filme que puxa classicamente a corda da emocionalidade: partilha com o espectador o saber da inocência de Lucas e, com isso, sente-se livre para acusar a comunidade de promover o linchamento moral do inocente. Vinterberg deixa a impressão de ser, ainda hoje, prisioneiro do impacto produzido por seu "Festa de Família" (1998). Com "A Caça" ele parece promover uma revisão de "A Fita Branca", que deu a Palma de Ouro de Cannes de 2009 a Michael Haneke. Não há surpresa nisso: ambos têm forte atração pelo lado doentio do mundo... A diferença mais notável é que Vinterberg não se importa muito com o aspecto político da questão. A ele basta constatar que a comunidade de bons amigos não passa de uma comunidade de bons linchadores. Isso parece fazer parte do destino humano. E por aí ficamos. O restante se apóia no impacto emocional que a narrativa à maneira clássica tende a provocar. Não é muito. Claro, sempre é possível ler "A Caça" a partir da hipótese, bem verossímil (lembrar apenas do caso Escola Base) dessas condenações sumárias proferidas pela coletividade que justificam o desejo de depositar sobre certo objeto seus ódios recônditos. O possível interesse desse tipo de leitura, no entanto, vem menos do filme do que dos muitos exemplos fornecidos pela realidade. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |