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Biografia revela os muitos paradoxos de Mick Jagger Narrativa traz à tona personalidade manipuladora e carismática do Stone Autor tentou diversas aproximações com o cantor, que se esquiva de polêmicas alegando falta de memória RODRIGO LEVINOEDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA” Em meados dos anos 1980, uma editora inglesa adiantou a Mick Jagger, 69, líder dos Rolling Stones, 1 milhão de libras por sua autobiografia, que seria escrita por um "ghostwriter" a partir de entrevistas gravadas. Deu tudo errado. Não houve como dar forma digna a um amontoado de relatos chatíssimos e ele teve de devolver o dinheiro.
O que deveria ser uma epopeia sobre a vida do "rock star" mais parecia um coletivo de tergiversações. Nada -pelo menos que importasse- sobre sexo, drogas e rock'n'roll. Norman teve lançada nesta semana, no Brasil, "Mick Jagger", uma biografia pormenorizada do cantor que neste ano completou 50 anos a frente da maior banda de rock da história. O primeiro encontro dos dois aconteceu em 1965, quando o escritor o entrevistou nas escadarias de um cinema londrino. "Enquanto ele respondia às minhas perguntas sem muito interesse, flertava com uma garota que estava atrás de mim", conta. Isso nunca mudou: o desinteresse por detalhar a própria vida e a sede irrefreável por mulheres. Mas não só. O Jagger que emerge da biografia de Norman é um sujeito grandioso e paradoxal. A depender do ângulo, tão arrivista, mesquinho e manipulador quanto afetivo, focado e carismático. Filho de uma família de classe média do interior da Inglaterra, ele nunca teve o que Norman chama de "vácuo negro", uma condição que explicaria o brilho de estrelas como Keith Richards, o guitarrista dos Stones. "Ele nunca deixou que os excessos, inclusive os que mataram parte de sua geração, o tirassem do controle de tudo: das drogas, das mulheres (às vezes dos homens), dos negócios e da banda." DETALHES TÃO PEQUENOS Detalhista quase ao ponto de exasperar o leitor, Norman traz versões embasadas e definitivas sobre casos estrepitosos da vida de Jagger. Como a prisão dele por porte de drogas (cedida por um agente de contrainformação da CIA) em 1967, a tragédia da morte de fãs em Altamont, festival realizado pela banda cuja segurança foi entregue aos Hell's Angels, o flerte com o ocultismo, a relação turbulenta e apaixonada com Marianne Faithfull, a história de suas principais canções, os casos e os casamentos que lhe deram sete filhos, a relação distanciada com a família e os amigos, além do forte tino empresarial. No palco, para o autor, Jagger é uma mistura de todos esses atributos e desabonos. "Ao mesmo tempo em que ele se entrega ao público, extrai dele, sem dificuldade, a adoração que alimenta o seu narcisismo", diz. "Você pode explicá-lo de várias formas, mas nada se encaixa direito. É um cara egoísta, mas um pai cuidadoso; há 20 anos mal fala com os colegas da banda, ao mesmo tempo em que, junto deles, se transforma em uma força priápica de tão sedutora". Seduziu o próprio Norman, que em 2002 criticou a concessão a Jagger do título de Sir pela rainha da Inglaterra, mas, hoje, pensa que foi merecido. "Foi o que me restou depois desse mergulho profundo na vida dele", entrega.
MICK JAGGER |
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