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Crítica romance Excesso de correção enfraquece trama bem contada de "Nihonjin" NOEMI JAFFEESPECIAL PARA A FOLHA À semelhança de "Os Hungareses", livro vitorioso na categoria estreante do Prêmio São Paulo de Literatura, o vencedor do polêmico Jabuti deste ano também é uma narrativa histórico-ficcional sobre imigrantes no Brasil. Aqui, em "Nihonjin", de Oscar Nakasato, trata-se de uma família de japoneses que chegaram ao país nas primeiras décadas do século 20, com a expectativa de, após prosperarem, voltarem mais ricos ao Japão. O narrador em primeira pessoa já é um gaijin, descendente do protagonista Hideo Inabata, seguidor fanático do imperador japonês, que teria conclamado a população a buscar riqueza em outros países, para então levar as fortunas de volta ao Japão. A história -que funde elementos reais da vida dos imigrantes japoneses no Brasil à saga ficcional de uma família- começa com o neto se perguntando sobre a primeira mulher do avô, Kimie. A partir desse questionamento, em que o neto procura visualizar cenas do passado, misturando diálogos e imaginação, vai sendo montado o quadro sofrido de algumas gerações de japoneses no Brasil. Desde o trabalho praticamente escravo numa lavoura de café até a abertura de uma loja de lembranças japonesas no bairro da Liberdade, em São Paulo, passando por sonhos, desilusões, mortes e preconceitos de ambos os lados. SEGUNDA GUERRA Há vários conflitos paralelos no romance, como a lenta derrocada da perspectiva de enriquecimento, as dificuldades de relacionamento entre italianos e brasileiros e os dramas amorosos e étnicos de descendentes da família de Hideo. Mas a tensão central da narrativa ocorre quando o imperador reconhece publicamente a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e uma facção de seus seguidores no Brasil -os kachigumes- se recusa a aceitar como verdadeira essa declaração. Aos japoneses, ou mesmo aos gaijins que acreditavam na rendição ou que desejavam se adaptar ao Brasil, era decretada a pena de suicídio ou de morte. Entretanto, apesar do interesse temático, o romance apresenta algumas fragilidades narrativas. Talvez não sejam exatamente falhas, mas, estranhamente, um excesso de correção. "O tempo -sua reta inflexível como o traçado de uma flecha certeira no ar, sua norma inquestionável e singular" não é certamente uma reflexão memorável sobre a inexorabilidade da passagem dos anos. E o mesmo pode ser dito sobre a estrutura e a linguagem lineares, as rubricas "eu disse, eu perguntei, ele prosseguiu", os estereótipos sobre a natureza brasileira e japonesa -aqui a profusão selvagem e lá as quatro estações bem definidas. Há também algumas metáforas pouco imaginativas, como a imagem do bonsai para representar o Japão perdido na memória. Trata-se de uma história bem contada. Mas é preciso mais. NOEMI JAFFE é doutora em literatura brasileira pela USP e autora de "Quando Nada Está Acontecendo" (Martins).
NIHONJIN |
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