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Nosso godzilla

Em nova HQ, Gustavo Duarte cria versão brasileira do clássico monstro japonês

RODRIGO LEVINO
EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Entre as muitas lembranças de infância do quadrinista Gustavo Duarte, duas são particularmente marcantes: as férias em Santos (a 77 km de São Paulo) e o exemplar da HQ "O Cavaleiro das Trevas", de Frank Miller, que ganhou do pai aos dez anos.

A passagem para um nível mais complexo de narrativa ("Até então eu só lia "Turma da Mônica" e "Zé Carioca", conta ele) alimentou o gosto pela leitura e despertou a vocação para o desenho.

Aos poucos, à pilha de gibis infantis foram se juntando títulos como "Spirit", de Will Eisner e coleções de

"Peanuts", de Charles Schulz, e "Calvin e Haroldo", de Bill Waterson.

Na época, ele morava em Bauru, no interior de SP.

"Percebi que esses quadrinhos encalhavam na banca de revistas da cidade. Quer dizer, eu tinha tudo só para mim. Foi uma festa", diz.

Mais de 20 anos depois, as lembranças se reuniram em forma de narrativa no romance gráfico "Monstros!" (Quadrinhos na Cia.), recém-lançado por Duarte.

Este é o quarto livro de sua carreira. Antes, ele lançou, aqui e nos Estados Unidos, "Có", "Taxi" e "Birds".

No quadrinho, em que não há uma palavra sequer -nem é preciso, pois ele é daqueles que traduzem facilmente mil palavras em uma imagem- monstros invadem a cidade de Santos.

Em resumo, um Deus nos acuda que será resolvido pelo herói no qual não se aposta R$ 1 à primeira vista.

GODZILLA NACIONAL

A história de seres fantásticos que saem do mar para destruir uma grande cidade remete, claro, a "Godzilla" (1954), clássico do cineasta japonês Ishiro Honda.

Duarte, que foi criado também à base de seriados enlatados do Japão, não nega a influência.

"Sempre fui fascinado pelos monstros de seriados como 'Spectreman', 'Jaspion' e 'Ultraman', que passavam na TV nos anos 1980."

A ideia de juntar as referencias da infância o levou de volta ao litoral paulistano. De câmera em punho e, como na infância, hóspede de uma tia, documentou o que havia restado da época das férias escolares. O resto ficou por conta da imaginação.

SEM PALAVRAS

A escolha por não usar legendas ou diálogos vem do exercício como cartunista e caricaturista (Gustavo Duarte também é colaborador da Folha), em que a objetividade é palavra de ordem, e já havia sido experimentada nas HQs anteriores do autor.

"E tem também a intenção de atingir o maior público possível, independentemente da idade", explica.

Um intuito fácil de alcançar; basta uma folheada em "Monstros!". Do livro também salta bastante humor, sobretudo, quando o leitor se depara com o mais improvável dos heróis: Seu Pinô, ex-pescador, dono de um bar em Santos e notório contador de "causos" aloprados.

Entediado no balcão, à espera dos clientes, Pinô nota que há algo estranho na cidade. Primeiro o silêncio, depois o caos.

O insuspeito senhor tem uma reputação secreta a zelar. É ele -e só ele sabe disso- quem pode salvar Santos da destruição. A solução e o desfecho são hilários.

Isso tanto para brasileiros como para americanos, entusiastas do trabalho de Duarte, que lançou "Monstros!" há uma semana na Nova York Comic Con, uma das maiores convenções de quadrinhos dos Estados Unidos.

"Birds", seu quadrinho anterior, foi lançado para os americanos antes de chegar ao Brasil, em 2011.

Nessa HQ, Duarte já ensaiava uma incursão mais forte por enredos surrealistas, que é uma das marca de "Monstros!".

Os protagonistas são dois pássaros caladões, sócios de um escritório de contabilidade. Nem Seu Pinô, com tanta história absurda para contar, acreditaria que algo assim é possível.

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