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36ª Mostra de SP Crítica/Especial

Coletânea de curtas tem bom resultado

"Mundo Invisível", idealizado por Leon Cakoff, morto em 2011, reúne time eclético de diretores

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Para aceitar "Mundo Invisível" é preciso que o espectador se situe como numa sessão de curtas-metragens, que nos transporta, de dez em dez minutos, de um universo para outro, de um modo de ver e pensar o mundo para outro.

Aceito esse incômodo, é preciso começar por deixar clara a superioridade de "Mundo Invisível" sobre "Bem-Vindo a São Paulo", produzido nos mesmos moldes (diretores participantes da Mostra, produção mínima, pouco tempo para rodar etc.).

Ao menos dois segmentos são fantásticos: "Do Visível ao Invisível", de Manoel de Oliveira, em que o mestre português narra o encontro de dois amigos que não conseguem se falar devido ao celular de ambos, que não para de tocar. À moda de Oliveira: simples, evidente, incontestável. Em uma palavra, e sem exagero, genial.

"Yerevan - O Visível", embora assinado por Atom Egoyan, tem a coautoria de Leon Cakoff. Aqui, Cakoff também é ator, fazendo o homem que vai a Ierevan e, numa praça central da capital armênia, expõe um cartaz no qual procura o avô, desaparecido desde os massacres perpetrados pelos turcos, no início do século passado.

Cakoff pagava, com efeito, uma promessa feita à avó. Essa busca obviamente não chega ao resultado esperado, mas é uma oportunidade de aproximação com a cultura, a história e o povo da Armênia.

Também muito feliz é o documentário de Wim Wenders sobre o serviço da Santa Casa dedicado ao tratamento de crianças com deficiência visual profunda. Dedicado a tirar do limbo essas crianças, não raro tomadas, antes disso, por cegas. Wenders serve ao assunto com eficiência. O segmento é comovente apesar da dispensável música, horrenda, que o acompanha.

Por fim "Tekoha", de Marco Bechis, é inventivo e agudo: mostra um grupo de índios numa mata nativa que, logo saberemos, é nada mais do que o parque Trianon.

Da mata nativa, os índios pulam para a avenida Paulista, onde não passam de intrusos (ou seja, são vistos como tal na rua dos brancos).

Esses destaques são até certo ponto subjetivos e não desmerecem os demais trabalhos, de cineastas muito reputados: Theo Angelopoulos, Jerzy Stuhr, Laís Bodanzky, Beto Brant (este último tem imagens impressionantes, mas não cheguei a compreender muito bem).

Esforçado, talvez demais, é o episódio de Maria de Medeiros, "Aventuras de um Homem Invisível". Gian Vittorio Baldi parece não ter chegado ao ponto (embora o exponha verbalmente) em seu "Fábula - Pasolini em Heliópolis".

Quanto a "Gato Colorido", de Guy Maddin, filmado no cemitério da Consolação, no dia de Finados, parece mais, desculpe a franqueza, aqueles super-8 dos anos 1970.

MUNDO INVISÍVEL

QUANDO hoje, às 21h, na Cinemateca; ter., às 17h30, Reserva Cultura; qua., às 14h, no MIS; e qui., às 22h25, no Espaço Itaú Frei Caneca

CLASSIFICAÇÃO 14 anos

AVALIAÇÃO bom

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