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Jogo do bicho

Documentário que estreia na sexta mostra a batalha de seis jovens por vaga no ensino superior

IURI DE CASTRO TÔRRES DE SÃO PAULO

"Meus pais são advogados, meu irmão também é, assim como meus avós e todos os meus tios. Mas não tem pressão nenhuma, é um sonho, está no sangue", diz Carolina Fairbanks diante da câmera.

O sonho, no caso da paulistana, é entrar para a faculdade de direito da Universidade de São Paulo. E o depoimento é para o documentário "Virando Bicho", que estreia sexta (9) e brinca com a expressão que designa os calouros.

Carolina é uma das personagens do longa que mostra a dura trajetória de jovens que lutam por uma vaga no ensino superior no Brasil.

Lutar é um verbo apropriado. Em vestibulares com até 50 candidatos para cada vaga, como nos cursos de medicina e de engenharia da USP, é preciso nervos de aço para enfrentar a batalha.

Os campos de "guerra" são os cursinhos preparatórios, com seus professores piadistas, salas com até 180 alunos e vestibulares simulados.

Para muitos a batalha começou no sábado passado: 5,8 milhões de jovens se submeteram ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), cuja nota é utilizada para ingressar em várias faculdades.

É desse universo que "Virando Bicho" trata. Seis alunos com idades entre 17 e 20 anos de diferentes estratos sociais com o mesmo sonho. "Melhorar de vida entrando na faculdade", diz Alexandre Carvalho, diretor do longa ao lado de Silvia Fraiha.

O sonho de Carolina não parece tão impossível, já que a menina estudou em bons colégios particulares de São Paulo e frequenta um cursinho de classe média alta.

Não é o caso de Samara Oliveira, que vai a aulas em um curso comunitário no Rio. Ela estudou a vida inteira na periferia da capital fluminense e só agora tem "professores de verdade, que não faltam às aulas e ensinam mesmo". Quer estudar artes visuais.

Quem também tem dificuldades é Ana Deise de Souza. Negra, a garota diz, no filme, que teve de enfrentar preconceitos para conseguir se formar no ensino médio.

"Mas não quero me fazer de coitada", diz Ana à Folha. "Todos no filme passam pelos mesmos desafios."

Pelo filme também conhecemos o figuraça Renan Campari, ex-promessa do futebol que decidiu se dedicar aos livros. Carismático, quer ser administrador de empresas.

Do interior de São Paulo vêm Erick Rocha, que trabalha no cursinho para assistir às aulas, e Olivia Zanetti, que estuda para medicina.

"Entrevistamos mais de cem jovens para chegar a esse panorama amplo", revela o diretor. O filme demorou dois anos para ficar pronto.

DISCUSSÕES

Mais do que apenas o dia a dia dos estudantes, "Virando Bicho" acende discussões que cercam esse universo.

Estão lá, por exemplo, as cotas raciais, a eficiência de um exame como o vestibular para aferir a capacidade de alguém e o embate entre instituições públicas e privadas.

Os cineastas foram atrás de especialistas no assunto para elucidar alguns desses pontos, como os colunistas da Folha Drauzio Varella e Contardo Calligaris.

Mas são os professores que acabam tendo papel fundamental nesse período. O filme mostra jovens de classe alta do Rio que dão aula em cursos comunitários e os famosos professores que mais parecem atores de comédia.

Não fica de fora a discussão ética sobre os "mestres" que namoram -e até se casam- com suas pupilas.

O fim de "Virando o Bicho" mostra o nervosismo dos personagens nos dias D: a prova e a divulgação do resultado.

Se quer saber se Carolina, Samara, Ana, Olivia, Erick e Renan conseguiram ou não a tão sonhada vaga em uma faculdade, bem... alguns viram "bicho", outros não.

VIRANDO BICHO
DIRETORES Alexandre Carvalho e Silvia Fraiha
PRODUÇÃO Brasil, 2012
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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