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Cinema - CRÍTICA COMÉDIA

'Amanhã Nunca Mais' mostra embate entre o protagonista e a cidade

Lázaro Ramos faz anestesista que se divide entre atender a chamado de trabalho e buscar o bolo de aniversário da filha

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
Divulgação
Maria Luísa Mendonça e Lázaro Ramos em cena de 'Amanhã Nunca Mais', de Tadeu Jungle
Maria Luísa Mendonça e Lázaro Ramos em cena de 'Amanhã Nunca Mais', de Tadeu Jungle

O começo de "Amanhã Nunca Mais", longa-metragem de estreia de Tadeu Jungle, não é muito animador.

Na Praia Grande, litoral sul de São Paulo, uma família -o anestesista Walter (Lázaro Ramos), sua mulher (Fernanda Machado), sogra e filha- tenta ter um momento de lazer, enfrentando o sol escaldante, a sogra farofeira, a lotação na areia e no mar.

Em meio ao humor da situação, há um olhar severo para aquela família: Walter é o outro, o pobre coitado, o objeto de estudo da classe média -uma visão não muito diferente da de outra comédia paulista recente, "Família Vende Tudo".

Mas, então, Walter recebe um chamado de seu chefe para voltar ao trabalho e a São Paulo -e o filme começa lentamente a engatar.

Enquanto tenta se livrar de mais um plantão, o anestesista se compromete com a mulher a pegar o bolo para o aniversário da filha. Mas uma série de incidentes -o trânsito da cidade, a briga com o chefe, os encontros com um travesti e uma alcoólatra- o impede de cumprir a missão.

"Amanhã Nunca Mais" torna-se, então, um filme sobre o embate entre Walter e a cidade, um pesadelo urbano na linha de "Depois de Horas" (1985), semelhança que outros críticos já apontaram, ou de seu reverso rancoroso, "Um Dia de Fúria" (1993).

O pacato Walter, o homem incapaz de dizer não, vai se enervando -e se humanizando- ao longo do filme.

Em dado momento, ele deixa de ser o outro para se tornar um pouco de cada um de nós, deixa de ser um tipo de classe para se tornar um espelho que reflete a inviabilidade da metrópole e o preconceito de seus habitantes.

É uma transição que se efetiva diante dos olhos do espectador graças à atuação precisa -de um minimalismo virtuosístico, repleta de detalhes quase invisíveis- de Lázaro Ramos.

Renovador da linguagem da TV brasileira nos anos 80, Jungle mostra que se tornou não só um bom diretor de atores mas uma espécie de esponja audiovisual, absorvendo outras obras e diferentes estilos para chegar a um resultado sólido, homogêneo.

A única parte que destoa no conjunto é a trilha sonora incidental, que nos lembra a todo momento, talvez de olho no mercado, que estamos vendo uma comédia -embora "Amanhã Nunca Mais" seja também, de um modo particular, um filme de horror.

AMANHÃ NUNCA MAIS

DIREÇÃO Tadeu Jungle

PRODUÇÃO Brasil, 2011

COM Lázaro Ramos e Maria Luísa Mendonça

ONDE Cidade Jardim Cinemark, Espaço Unibanco Pompeia e circuito

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

AVALIAÇÃO bom

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