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Lado ilustradora de Fayga Ostrower está em mostra

Gravurista concebeu obras para livros de Graciliano Ramos e de T. S. Eliot

Exposição em São Paulo permite observar a troca do registro expressionista pela abstração geométrica

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Aquele boi, "morto, sem forma ou sentido ou significado", do poema de Manuel Bandeira fica mais abstrato na ilustração de Fayga Ostrower, um emaranhado ósseo e ao mesmo tempo frágil que se decompõe contra um fundo de tons verdes soturnos.

Menos conhecidas do que suas gravuras, as ilustrações para livros, poemas e revistas da artista polonesa que se radicou no Brasil, morta aos 79 há dez anos, estão juntas agora no Museu Lasar Segall.

Ostrower se firmou nos anos 40 como gravurista de traços expressionistas. Trabalhava com total economia de meios, linhas densas em preto e branco, na tentativa de denunciar nos desenhos a crueza da miséria humana.

Em paralelo à produção artística de temas livres, ela começou ilustrando romances nesse mesmo estilo, realidades surradas traduzidas de forma concisa, só esqueletos e sombras angulosas.

Em "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo, as sombras engolem as figuras, e o preto quase domina as composições.

Ela também cedeu à prosa seca das "Histórias Incompletas" de Graciliano Ramos um quadro a quadro ainda mais denso, opressor e fuliginoso, de linhas e pontos cortantes.

Essa fúria figurativa parece arrefecer ao longo da carreira. Ostrower troca a secura do registro expressionista pela abstração geométrica da forma, ao ir da ilustração da prosa para a poesia.

"Essa mudança é sintomática, porque a própria obra dela vai ficando menos narrativa e mais lírica", observa Eucanaã Ferraz, curador da mostra. "É possível ver como sai da gravura mais realista e chega ao abstracionismo."

Um primeiro passo nesse rumo é a ilustração que fez em 1952 para os versos do poema "Boi Morto", de Manuel Bandeira, em que a cara do bicho começa a se desfazer em contornos abstratos.

Quatro anos depois, os "destroços pedregosos" e a "sombra desta rocha rubra" dos versos de "A Terra Inútil", de T.S. Eliot, viram abstrações, linhas, círculos e elipses em verde e marrom.

Esse, aliás, é um dos primeiros trabalhos em que Ostrower começa a usar cores, elemento que surge em sua obra quase que em paralelo ao momento em que passa a ilustrar obras poéticas.

FAYGA OSTROWER

QUANDO abre hoje, às 17h; de ter. a sáb., das 14h às 19h; dom., das 14h às 18h; até 19/2/2012

ONDE Museu Lasar Segall (r. Berta, 111, tel. 0/xx/11/5574-7322)

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