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Ficção perdeu os leitores, diz o autor de "O Filho Eterno"

Cristovão Tezza diz que a vanguarda afastou o público do romance brasileiro

Para Marçal Aquino, quem se guia por tendências do mercado deixa de ser artista para ser apenas comerciante

DE SÃO PAULO

Entre os escritores, como em geral costuma acontecer, o debate sobre mercado e arte gera um tanto de controvérsia e de discórdia.

"O autor que se guia pelas tendências do mercado deixa de ser um artista para ser um comerciante", diz Marçal Aquino ("O Invasor"). É principalmente por falta de conhecimento, crê, que o público consome pouca ficção nacional.

"É a velha questão, temos que investir na formação dos leitores. A ficção ainda é muito associada à diversão rápida. O leitor prefere ler uma biografia, pensa 'vou ler algo que me ensine alguma coisa'."

Sérgio Sant'Anna ("Um Crime Delicado"), um dos principais autores nacionais, diz que nunca teve pretensão ao best-seller. "Entendo tão pouco disso que nunca tinha me dado conta de que a não ficção faz mais sucesso."

Cada um de seus livros vende, em média, 5.000 exemplares, número que considera satisfatório.

"O que é bom não vende muito. O pessoal não tem nível intelectual para consumir um livro de maior qualidade. O Jô vende muito porque é da televisão. Se tirar a TV, ele não entra mais nas listas."

DESCOMPASSO

Já o autor Nelson de Oliveira acredita que "há um sério problema de falta de sintonia entre o grande público e os escritores brasileiros".

"A grande massa de leitores está interessada numa ficção folhetinesca, vibrante e colorida, enquanto 99% dos escritores brasileiros estão interessados apenas na 'obra maior', em geral complexa e problemática."

Com o pseudônimo de Luiz Bras, ele enveredou por temas mais populares, como suspense e ficção científica, em seu mais recente romance, "Sozinho no Deserto Extremo".

"Para figurar com mais frequência nas listas de best-sellers de ficção, os escritores precisariam ser menos vaidosos e pretensiosos", afirma.

Cristovão Tezza também fala em divórcio entre o autor brasileiro e o público.

"Nós perdemos o leitor depois dos anos 1970, quando a universidade passou a dominar a literatura. Houve uma poetização da prosa, a narrativa clássica implodiu. Já o autor de não ficção, pelos próprios temas com os quais lida, nunca perdeu de vista o seu leitor."

Tezza é autor de "O Filho Eterno" (2007), romance superpremiado, mas que não entrou nas listas de mais vendidos. Embora tente conciliar sofisticação e aspectos mais tradicionais da narração, não se preocupa de antemão com o resultado comercial. "Se vender, ótimo. Mas ficar obcecado com isso pode envenenar o autor."

Para vender bem, explica Joca Reiners Terron ("Não Há Nada Lá"), é necessário apresentar alguns (ou todos) dos seguintes fatores; ter talento literário e fazer obras realistas, que cortejem a não ficção; ser o próprio autor um produto "vendável" (bonito, jovem etc.); estar na TV. Mas o essencial é o investimento em publicidade feito pela editora.

"Publicidade é botar anúncio no jornal, no cinema, na lateral do ônibus e do metrô, propaganda na TV e na web. Isso custa muito dinheiro e quase nunca é feito."

Esse parece ser o dilema "o ovo e a galinha" do meio literário: a ficção brasileira vende pouco porque recebe pouco investimento das editoras ou recebe pouco investimento porque vende pouco?

"A editora ajuda, mas não faz milagre. A qualidade do texto continua sendo fundamental", argumenta Pascoal Soto, diretor-geral da Leya.

A questão, tudo indica, ainda vai consumir muitas páginas.


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