Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica

"O Vale do Issa" celebra inocência e natureza

Livro do escritor Czeslaw Milosz (1911-2004), vencedor do Nobel, volta a ser editado no país pela ed. Novo Século

LUIZ BRAS ESPECIAL PARA A FOLHA

A geografia emocional de Czeslaw Milosz (1911-2004) não é das mais simples. Nome importantíssimo da literatura polonesa do século 20, Milosz não nasceu na Polônia, mas onde hoje é a Lituânia, quando o país ainda pertencia ao império russo.

Formou-se em direito em Vilna, capital da Lituânia, cidade de história conturbada, cobiçada constantemente por russos, poloneses e alemães.

Em seguida, Milosz recebeu uma bolsa de estudos em Paris, trabalhou na Varsóvia ocupada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, foi diplomata na Polônia comunista e, na década de 1970, cansado do totalitarismo soviético, exilou-se nos EUA.

Em sua obra, Milosz retornou à infância ao menos duas vezes: em "O Vale do Issa" (1955), romance que a editora Novo Século recoloca em circulação no Brasil, e em "Rodzinna Europa" (1959), memórias inéditas no Brasil.

"O Vale do Issa" é uma delicada celebração da inocência e da natureza. A narrativa compreende os 14 primeiros anos de vida de Thomas, alter ego do autor, numa região anacrônica, apartada do ruidoso e ruinoso século 20.

O vale do rio Issa, avisa o narrador, "distingui-se por ser habitado por um número enorme de demônios" (a primeira edição brasileira da obra intitulava-se justamente "O Vale dos Demônios").

É nesse lugar que o protagonista-mirim e sua família vivem em conflituosa harmonia com as forças sobrenaturais do mundo pagão. Forças que já começam a recuar diante do avanço devastador do catolicismo, do protestantismo e do comunismo.

A infância de Milosz ressurge como uma mistura sensual de lendas e crenças. Na vila de Gine, onde Thomas nasceu, não há desdita ou ventura que não tenham sido provocadas por uma assombração ou feiticeira.

Mas essa recuperação amorosa do passado perdido, de tons mágicos, talvez decepcione os leitores que já conhecem do autor os ensaios ficcionais de "Mente Cativa" (ed. Novo Século).

Os nove textos publicados nessa coletânea denunciam com inteligência e vigor a racionalização do pensamento totalitário.

O que leva os intelectuais a trocar a própria liberdade para servir às grandes teses de ditaduras absolutas? Reflexões habilidosas tentam responder essa pergunta.

Clássico do anti-totalitarismo, "Mente Cativa" figura ao lado das melhores narrativas distópicas, como "1984", de George Orwell (1903-1950).

Aos leitores desapontados, porém, é bom lembrar que Milosz recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1980 principalmente pela sua obra poética. Na geografia emocional do autor, a ponte entre a brandura do vale e a dureza do cativeiro mental são, por exemplo, os ardilosos poemas da antologia "Não Mais" (ed. UnB).

O VALE DO ISSA

AUTOR Czeslaw Milosz

EDITORA Novo Século

TRADUÇÃO Sonia Yumi Hirae

QUANTO R$ 47 (304 págs.)

AVALIAÇÃO bom


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página