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Livro reúne ensaios de intelectuais sobre Brasília

Escritos de Gilberto Freyre e Lina Bo Bardi, entre outros, estão em volume

Cidade desenhada por Oscar Niemeyer foi alvo de duras críticas durante a construção, no fim dos anos 1950

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Num pedaço de terra vermelha que lembra "bistecas sangrentas no balcão de um açougueiro", surgiu uma "flor", a "primeira entre as capitais da nova civilização", um "oásis" conquistado "à moda cabralina, chanfrando na terra o signo da cruz".

Essa cidade utópica é Brasília, vista, descrita e dissecada por intelectuais como Mário Pedrosa, Gilberto Freyre e Lina Bo Bardi. Num livro lançado pouco depois da morte do arquiteto Oscar Niemeyer, no fim do ano passado, esses e outros nomes relembram o impacto da criação da capital do país.

Hoje uma espécie de testamento vivo do fracasso das utopias modernas na arquitetura, Brasília nasceu para alguns sob o signo da esperança, mas já despertava críticas ferrenhas mesmo em seus estágios embrionários.

Três anos antes da inauguração da cidade, em 1960, o crítico de arte Mário Pedrosa chamou de "imaturo e anacrônico" o urbanismo de Lucio Costa. Na opinião dele, Brasília sempre foi refém de um caráter "programático".

Gilberto Freyre, autor de "Casa Grande & Senzala", engrossa a ala de detratores, tachando de "ditadura arquitetônica" o modo como Niemeyer e Costa tocaram a construção. Ele também ataca o idealismo dos arquitetos, que criaram uma "cidade nova para uma ordem burguesa antiquada", mais afeita a "europeus nórdicos" do que a um "povo neolatino".

Descreditando a euforia em torno da capital, o italiano Alberto Moravia enxergou em Brasília certo barroquismo. Na cidade de "solidões metafísicas", ele observou que "ao barroco delirante das igrejas coloniais corresponde, em sentido psicológico, o gigantismo de Brasília".

Tanto ele quanto Freyre fizeram ressalvas também ao Palácio da Alvorada. Para o brasileiro, a obra parece "uma joia sob o sol tropical", mas "indiferente ao solo tropical, ao clima tropical".

Já Moravia exalta a ousadia das formas do lado de fora do palácio, mas se decepciona com o lado de dentro, que diz lembrar um "country club norte-americano", com suas "grandes salas alegres".

Em defesa da cidade, a arquiteta Lina Bo Bardi, escrevendo no ano do golpe militar, em 1964, atribui a incompreensão de seu projeto à "cultura pobre" da época, "um mundo nu, seco, de milhões de homens, sem arrebatamentos, sem saídas".

BRASÍLIA: ANTOLOGIA CRÍTICA
AUTOR Alberto Xavier, Julio Katinsky (organizadores)
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 82 (472 págs.)


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