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Herzog se volta para condenados a morte

Novo documentário do diretor alemão gira em torno de dois homens acusados de homicídio triplo há dez anos

"Into the Abyss" é uma colcha de retalhos, às vezes confusa, que esbarra na cafonice dos programas de TV

FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

Werner Herzog, o cineasta alemão que vive sem alarde nas colinas de Hollywood, na Califórnia, estreou no final de semana nos EUA um novo documentário, em que fala de um crime no Texas, da pena de morte no país -e também, a certa altura, de esquilos.
"Into the Abyss" (dentro do abismo) gira em torno do homicídio triplo ocorrido há dez anos pelo qual foram condenados, ainda adolescentes, Michael Perry e Jason Burkett.
Antes de supostamente cometerem o crime, eles roubaram um automóvel dentro de um condomínio fechado numa pequena cidade texana.
Perry aguarda no corredor da morte, enquanto Burkett cumpre prisão perpétua.
Ambos negam os assassinatos. Cada um tem sua versão dos fatos, assim como amigos e familiares dos acusados e das vítimas, todos entrevistados por Herzog.
O filme é uma colcha de retalhos como "Rashomon" (1950), de Kurosawa. É confuso, mas o diretor não está atrás da verdade. Ele investiga a complexidade (ou bizarrice) dos envolvidos.
"Into de Abyss" está longe de ser o melhor dos documentários de Herzog. Esbarra na cafonice dos programas de TV norte-americanos.
Mais da metade dos entrevistados chora, e apenas o sotaque de Herzog e suas perguntas fora de lugar fazem o espectador lembrar que não se trata de uma reportagem do programa da Oprah.
É assim quando ele pede ao capelão da penitenciária Polunsky (Texas) que descreva um encontro com um esquilo. O padre chora ao contar como quase atropelou o animal num campo de golfe.
Felizmente, ele conseguiu parar o carrinho e evitar a morte do animal, expectativa improvável para os que aguardam a injeção letal nos corredores da morte dos EUA.
É a primeira e uma das melhores entrevistas do filme, só perdendo para a última, uma hora e meia depois, com um capitão do time de execuções, responsável por amarrar os condenados na maca.
Depois de participar de mais de 120 delas, ele resolveu deixar a profissão e perdeu o direito à pensão.
"Tinha uma época em que eram duas por semana. Estava ficando cansativo", diz.
Mas o foco são as vítimas e os dois acusados, e não os meandros do sistema.
Herzog conversa com Perry, um rapaz estranhamente animado que aguarda chegar ao paraíso, e com Burkett, um jovem com pinta de modelo, cuja namorada ele nunca tocou mas que, milagrosamente, está grávida dele.
Afinal de contas, contrabando na prisão não se restringe a telefones celulares.
O diretor entrevistou outros presos no corredor da morte no Texas e na Flórida para uma série de TV, que deve ser exibida apenas em 2012 pela rede Discovery.

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