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Crítica Ficção/Documentário
Fracasso e solidão guiam personagens de filme mineiro
Vencedor do Festival de Brasília em 2010, "O Céu sobre os Ombros" acha tom certo entre a realidade e a ficção
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
As ficções costumam ter dois tipos de personagens. Os que conhecemos ao longo das narrativas e os que temos a impressão de conhecer ou reconhecer assim que entramos nos relatos. "O Céu sobre os Ombros" faz parte da segunda espécie.
O primeiro longa do diretor mineiro Sérgio Borges foi o grande vencedor do Festival de Brasília do ano passado, no qual abocanhou cinco prêmios.
Borges integra o coletivo Teia, grupo de criação audiovisual que se projetou com uma proposta bem-sucedida de experimentar modulações narrativas em documentários que expandem as fronteiras do gênero.
A estratégia comum ao grupo, de adotar rigor formal para chamar a atenção para camadas invisíveis da existência, marca fortemente "O Céu sobre os Ombros". O longa segue três personagens que perambulam numa franja indeterminada entre realidade e ficção.
Everlyn, "Lwei" e Murari são nomes estranhos de pessoas comuns como aquelas com que esbarramos cotidianamente. Solidão e doses maiores ou menores de sentimento de fracasso os definem e os tornam semelhantes à maioria.
Em vez de falsear um relato para arrancar os três da insignificância, "O Céu sobre os Ombros" prefere captar os desejos deles -um modo de fazer reconhecer como eles são significativos.
Amor é uma palavra que circula no concreto, pintada num muro ou à venda nas variantes da prostituição praticada pelos personagens. A falta dele os move numa direção que parece aleatória.
Nesse desnorteamento, seus rumos cruzam o nosso. Em vez de olhares, trocamos pontos de vista e o que recebemos de volta nos devolve à humanidade.
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