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Livros

'Eventos são antiliterários por excelência'

Com novo romance quatro anos após a estreia, Tatiana Salem Levy diz que teve de se recolher para concluir a obra

Autora venceu Prêmio SP de Literatura com 'A Chave de Casa', que rendeu maratona de convites para festivais

RAQUEL COZER
DE SÃO PAULO
Divulgação
A escritora Tatiana Salem Levy, brasileira nascida em Lisboa, que lança "Dois Rios"
A escritora Tatiana Salem Levy, brasileira nascida em Lisboa, que lança "Dois Rios"

Dias atrás, Tatiana Salem Levy, 32, dormiu no quarto de Fernando Pessoa (1888-1935).Ela tinha acabado de chegar a Lisboa, após um evento literário em São Tomé e Príncipe, quando encarou o desafio da casa que cuida da memória do autor: passar a noite onde ele dormia e narrar a experiência.

Desde 2008, quando levou o Prêmio SP de Literatura de autor estreante por "A Chave de Casa", a brasileira nascida em Lisboa tem vivido assim, entre viagens e convites para todo tipo de solenidade.

O resultado foi que o segundo romance, "Dois Rios", entre pausas e o estímulo decisivo de uma bolsa de criação literária da Petrobras, sai só agora, quatro anos depois.

"Eventos ajudam a divulgar o trabalho, mas são antiliterários por excelência. O circuito de vaidades e festas é meio desesperador. Chega uma hora em que você não consegue escrever", admite.

Os festivais também mostram uma Tatiana diferente da que se lê nos romances. Os debates, sobre temas em geral tão amplos que não chegam a lugar nenhum, não dão dimensão da autora madura que ela é. Tatiana se expressa bem melhor por escrito.

Ela mesma assente que é assim. "A Tatiana que se diverte nos eventos não me interessa", avalia, como quem vê de fora. A que interessa, diz, foi a que se recolheu para poder concluir "Dois Rios".

Para entendê-la, saber as condições em que o primeiro romance foi escrito é fundamental. "A Chave de Casa" nasceu como tese de doutorado da PUC-RJ, sobre herança familiar e literária. Na ocasião, saiu acompanhado de ensaio "explicitando como a tese se transformou em romance e defendendo essa escolha como posição política".

Ou seja, cada detalhe na narrativa é muito pensado, nada está ali por acaso.

"Dois Rios" parece, na essência, mais simples: trata de um casal de gêmeos que, afastado há anos, tem o destino alterado por encontros com a mesma mulher. Mas o livro permitiu novos riscos.

O maior deles foi dar voz masculina ao narrador que assume as rédeas na segunda parte do romance. Quem a ajudou nisso foi o amigo Eric Nepomuceno, escritor e tradutor, que fez seus vetos. "Ele me dizia: 'Isso não é homem, está divagando demais, isso é coisa de mulher'."

Em tempo: o texto sobre Pessoa, citado no primeiro parágrafo, Tatiana ainda não entregou. Mas há de ser um desafio. Na cama do poeta, a autora, sabe-se lá por que, sonhou foi com Maria Bethânia.

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