Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

A origem das espécies

Sebastião Salgado apresenta "Genesis", projeto que consumiu oito anos e R$ 20 milhões no registro de tribos e paisagens isoladas

FERNANDA EZABELLA ENVIADA ESPECIAL A LONG BEACH (EUA)

Os olhos azuis de Sebastião Salgado já viram de tudo neste mundo (e isto talvez não seja exagero). Por oito anos, o fotógrafo mineiro de 69 anos viajou por mais de 30 regiões extremas do globo coletando imagens de dezenas de tribos isoladas, animais em extinção e paisagens raras.

Ainda assim, ele parecia nervoso ao encarar os 1.400 ouvintes do TED, uma conferência exclusiva sobre tecnologia, artes e educação, na semana passada, na Califórnia.

Salgado tem menos de 18 minutos para explicar o projeto "Genesis", que consumiu 1 milhão de euros por ano (R$ 2,6 milhões) e vai resultar em livros, um documentário com Wim Wenders e uma série de exposições idênticas com 250 fotos em preto e branco cada. A primeira abre no dia 11 de abril em Londres e, no dia 28 de maio, chega ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

"Queremos criar um pequeno movimento em torno destas fotografias para provocar um debate sobre o que precisamos preservar", ele diz, levantando sua bandeira ecologista, ativismo que realiza com seu Instituto Terra.

Mesmo depois de tantos lugares exóticos, Salgado, que mora em Paris, ainda tira suas folgas no Brasil. "Ah, férias eu passo em Vitória." Leia trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.

Viagem mais fria
Fiz uma viagem de sonho com os Nenets, na península do Yamal (Rússia). São nômades criadores de rena que vivem num inverno extremo.
Era primavera e fazia entre -35ºC e -45ºC. Por 40, 45 dias, fiquei sem me lavar. Eles não se lavam, não têm água. A água que têm é quebrando um pedaço de gelo e colocando na panela para aquecer. Para fazer as necessidades, é do lado de fora. Você abaixa sua calça neste frio e seus testículos ficam do tamanho de uma castanha de caju, entende? [risos] Mas você acaba se adaptando.

Casaco de raposa
As roupas que levei funcionavam, sim, mas durante três, quatro horas. Passávamos 12 horas do lado de fora. Eles desmontavam a casa e não tinha mais onde ficar. No segundo dia, estava morrendo de frio. Aí eles me emprestaram suas roupas, feitas manualmente, para não passar frio nenhum.

Prevenção
No norte da Etiópia, fizemos uma caminhada de 800 km pelas montanhas. Organizei uma expedição com vários jumentinhos. Tinha um corredor de maratonas etíope que levou meu material mais sensível. Tinha um telefone por satélite e, no caso de acidente, seríamos retirados por helicópteros da Força Aérea. Não aconteceu nada. Em oito anos, só tive acidentes pequenos, malária e várias doenças.

Idade da Pedra
Encontrei tribos que ainda estão na Idade da Pedra, com instrumentos de trabalho como machados de pedra. São clãs com cerca de dez, 12 pessoas vivendo no alto das árvores. Eles já tinham visto um branco. Viram a direção de que eu vinha e o chefe me perguntou se eu fazia parte do clã de brancos que vinham daquela direção. Porque, para eles, o mundo é construído de clãs.

Flechas brasileiras
Estive com o grupo Zo'e, lá no Brasil, que foram contatados 15 anos atrás e estão num estado de pureza total.
Você vê o cara trabalhando numa flecha. Ele esquenta, põe peso, põe pena mais reta se quer a flecha mais rápida, pena mais redondinha para ficar mais lenta. É exatamente a ciência dos foguetes.
E tem o mesmo problema do Cabo Canaveral [base aérea dos EUA] para recuperar o foguete. Ele perde a flecha se não tiver um cálculo balístico perfeito. Ele sai para caçar com mais ou menos dez flechas, não mais que isso.

Documentário
Meu filho Juliano [Ribeiro Salgado] viajou comigo em cinco histórias, como no Brasil e na Sibéria. Agora está montando o filme em Berlim com Wim Wenders. Wim foi lá em casa, no Instituto Terra, em Aimorés (MG), filmar tudo [o filme terá codireção de Wenders e Juliano, com pré-estreia no Festival de Veneza, em agosto].

Leia íntegra da entrevista
folha.com/no1241588


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página