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Crítica fantasia

Febre de 'Crepúsculo' se explica por contaminação

Grande parte do custo de produção de 'Amanhecer - Parte 1' é gasta para ocupar o maior espaço possível nas mídias

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Como todo fenômeno coletivo, o sucesso da saga "Crepúsculo" não se explica por critérios racionais.

As vendas estratosféricas dos livros de Stephenie Meyer e as sessões lotadas a cada lançamento dos filmes da série guardam mais sentido enquanto contaminação.

Fenômenos naturais só existem (se ainda existem) na natureza. Todos os outros resultam de cálculo.

Por isso tentar compreender a imensa receptividade a "Crepúsculo" com base apenas em argumentos de ordem psicológica e afetiva, tais como projeção de uma sexualidade reprimida ou satisfação de fantasias românticas, pode ser eficiente para vender revistas ou para render pauta para filósofos de jornal, mas não é suficiente para "explicar o fenômeno".

Todo mundo sabe, mas não custa lembrar que livros e filmes são produtos industriais. Que, desde o lançamento de "Tubarão" (1975) e a emergência dos blockbusters voltados para o público teen nos anos 1970, o valor maior do custo de produção é gasto em ações de marketing. E que a medida do sucesso passa, antes da bilheteria, pela ocupação do maior espaço possível nas mídias.

É o que os marqueteiros chamam de "buzz", um modo de propagação viral, de ações pontuais e globais que impõem uma marca mesmo a consumidores desatentos.

Por isso é mais fácil sobreviver em Marte do que nem sequer ter ouvido falar da indefesa Bella, do vampiro Edward ou do lobisomem Jake na última meia década.

Assim como pouco antes foi impossível não cruzar com Harry Potter e com os hobbits e elfos de "O Senhor dos Anéis". Ou, para os mais tiozinhos como eu, ter atravessado os anos 1980 ileso às "Brumas de Avalon".

"Como assim você não faria igual a Bella para ficar com Edward?" e "como assim você não teria dúvida se Jake rasgasse toda a roupa para defendê-la?" são textos programados de fábrica para circular entre um público que vai de pré-adolescentes virgens a jovens mães.

Afirmar que a expressividade de Taylor Lautner se resume a ele tirar a camisa e mostrar o torso "photoshopado" pode implicar chibatadas no pelourinho virtual.

Afinal, produzir uma argumentação para esse público demonstrando a insuficiência narrativa ou as banalidades dos simbolismos do filme faz parte do "buzz" tanto quanto curtir comentários sobre temas e personalidades da saga nas redes sociais.

Pode ser mais proveitoso tentar reconduzir essa contaminação coletiva sugerindo outros exemplos de vampiros mais assombrosos e perigosamente libidinosos.

Se não der certo, deixemos o tempo resolver. Um dia todo mundo reencontra na rua ou no Facebook uma antiga paixão e inevitavelmente se pergunta: "Como assim pude perder a cabeça por aquilo?".

AMANHECER - PARTE 1

DIREÇÃO Bill Condon

PRODUÇÃO EUA, 2011

ONDE nos cines Cinépolis Largo 13, Eldorado Cinemark e circuito

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

AVALIAÇÃO ruim

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