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Gravação de disco clássico de João Gilberto com Stan Getz faz 50 anos

Lançado em 1964, "Getz/Gilberto" abriu as portas para a música brasileira nos Estados Unidos

Responsável pelos arranjos, Tom Jobim teve de administrar os egos do violonista e do saxofonista no estúdio

LUCAS NOBILE DE SÃO PAULO

Na noite de anteontem, a cantora Miúcha voltou a se surpreender com seu ex-marido, em visita que fez a ele no apartamento da rua Carlos Góis, no Leblon (Rio).

O encontro não ocorreu por motivos especiais, mas neste ano completam-se cinco décadas que Miúcha conheceu o compositor, cantor e violonista João Gilberto, 81.

Os dois se conheceram logo depois de ele se separar de Astrud Gilberto, com quem havia gravado o antológico "Getz/Gilberto", ao lado do saxofonista americano Stan Getz (1927-1991).

"Ele está cantando e tocando como nunca. A mão dele não envelhece. Talvez ele apronte alguma surpresa, não deu a vida por encerrada", disse a cantora sobre a possibilidade de João retomar os shows cancelados em 2011, que comemorariam os 80 anos do pai da bossa nova.

Rodeado de seus violões, João Gilberto mantém-se recluso como em 1963. Naquela época, somente a mulher de Getz, Monica, foi capaz de convencê-lo a deixar o hotel em Nova York, e seguir para o anexo do Carnegie Hall, onde aconteceriam os ensaios para "Getz/Gilberto".

Depois de muita insistência, João acabou entrando no estúdio A&R, nos dias 18 e 19 de março para gravar o álbum que abriria as portas para a música brasileira no exterior.

Stan Getz já estava de olho na música brasileira. Em 1962, lançara "Jazz Samba", com Charlie Byrd, e "Big Band Bossa Nova".

Admirador de violonistas brasileiros, em 1963 gravou "Stan Getz With Guest Artist Laurindo Almeida" e "Jazz Samba Encore!", com Luiz Bonfá no violão e Tom Jobim no piano e também no instrumento de seis cordas.

Contratado pela Verve, que tinha Creed Taylor como produtor, Getz descobrira sua nova pepita: João Gilberto.

O baiano de Juazeiro era um dos "aventureiros" que decidiram ficar nos EUA, assim como Jobim e o baterista Milton Banana. Em 1962, ele participara do lendário show de bossa nova no Carnegie Hall -que, apesar de problemas técnicos e críticas negativas, é tido como marco da bossa nova naquele país.

Além dos dois protagonistas, estavam no estúdio Jobim, Milton Banana, o baixista Tião Neto, cujo nome foi omitido da ficha técnica.

O disco teve a estreia de Astrud Gilberto, então com 23 anos, que interpretou "The Girl from Ipanema" e "Quiet Night of Quiet Stars", versão em inglês para "Corcovado".

No repertório, além dos dois temas, estavam "Doralice" (Dorival Caymmi), "Pra Machucar Meu Coração" (Ary Barroso), "Desafinado" (Jobim e Newton Mendonça), "Só Danço Samba", "O Grande Amor" (ambas de Jobim e Vinicius de Moraes) e "Vivo Sonhando" (só de Tom).

O álbum, que completa 50 anos de gravação neste mês, foi realizado em um clima não muito amistoso. Tudo porque seus dois protagonistas eram temperamentais.

RECADOS

Perfeccionista, João mandava seus recados por Jobim, arranjador do disco. "Tom, diga a esse gringo que ele é muito burro", cutucava. Desconfiado, Getz perguntava sobre os resmungos, e Jobim desconversava.

Sem apostar no material que tinha em mãos, Creed Taylor deixou o álbum na gaveta, lançando um single e o LP na íntegra apenas no começo de 1964.

O álbum ficou 96 semanas em segundo lugar na lista da revista "Billboard", perdendo só para os Beatles. Conquistou cinco prêmios Grammy e é tido como o disco de jazz mais vendido de todos os tempos, embora não haja números oficiais a respeito.

"O Getz era problemático. As pessoas saíam e ele aumentava o volume do sax na mixagem", disse Miúcha, que enfrentou as mesmas manobras no disco que gravou com o americano e com João, "The Best of Two Worlds" (1976).

"O João não queria trabalhar com ele. A capa tinha eu e o Getz, e colocaram o João numa montagem. O Getz queria que a capa fosse ele com o Pelé", relembra Miúcha.


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