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Inédito

Sobre raposas e porcos-espinhos

Cientistas políticos são melhores do que analistas de TV?

NATE SILVER

RESUMO A série em que a "Ilustríssima" adianta os principais lançamentos do ano traz trecho editado de "O Sinal e o Ruído", no qual o estatístico Nate Silver expõe seu método de análise de dados para fazer previsões. Na política, ele acertou 9 em 11 resultados nas eleições americanas de 2010. O livro sai em junho, pela Intrínseca.

A desintegração da União Soviética e de outros países do Leste Europeu se deu a um ritmo notavelmente rápido e, de modo geral, dentro de certa ordem.1

Em 12 de junho de 1987, o presidente norte-americano Ronald Reagan, junto ao Portão de Brandemburgo, implorou ao dirigente soviético Mikhail Gorbatchov que botasse abaixo o Muro de Berlim --uma medida popular e louvável que parecia tão audaciosa quanto a promessa de John F. Kennedy de enviar um homem à Lua. Reagan mostrou-se certeiro: menos de dois anos depois, o Muro cairia.

Em 16 de novembro de 1988, o Parlamento da República da Estônia, uma nação do tamanho aproximado do Estado americano do Maine, declarou sua independência em relação à todo-poderosa URSS. Menos de três anos depois, Gorbatchov evitou um golpe planejado pela linha-dura do partido em Moscou, e a bandeira soviética desceu pela última vez diante do Kremlin; como a Estônia, outras repúblicas soviéticas logo se tornariam Estados independentes.

Contudo, se a queda do império soviético a posteriori pareceu previsível, quase nenhum cientista político ligado às instituições de maior prestígio tinha vislumbrado esse desfecho. As poucas exceções haviam sido ridicularizadas. Se cientistas políticos não puderam prever a derrocada da URSS --talvez o acontecimento mais importante na segunda metade do século 20--, para que exatamente eles serviriam?

Philip Tetlock, professor de psicologia e de ciência política --lecionando, na época, na Universidade da Califórnia em Berkeley--, fazia-se algumas dessas perguntas. Na verdade, ele realizou uma experiência ambiciosa e inédita durante o colapso da URSS. Tendo dado início ao projeto em 1987, Tetlock colheu previsões de um amplo espectro de especialistas, na academia e em instituições governamentais, a respeito de uma enorme variedade de temas ligados a política interna, economia e relações internacionais.2

Tetlock descobriu que os especialistas em política tiveram dificuldades para antecipar a queda da URSS porque uma previsão que não apenas antevisse a extinção do regime mas compreendesse suas razões exigia que diferentes sequências de argumentos se combinassem. Não havia elementos inerentemente contraditórios nessas ideias, mas elas tendiam a ser expressas por pessoas de lados opostos do espectro político, e era improvável que estudiosos arraigados a determinado campo ideológico adotassem ambos os tipos de argumentos.

Por um lado, Gorbatchov era um fator decisivo nessa história --seu desejo de promover reformas era sincero. Se tivesse decidido ser contador ou poeta em vez de entrar para a política, a URSS poderia ter sobrevivido por pelo menos mais alguns anos. Os progressistas tendiam a vê-lo com mais simpatia. Conservadores se mostravam mais desconfiados --e alguns encaravam sua conversa a respeito da "glasnost" como mera pose.

Estes, sendo instintivamente mais críticos em relação ao comunismo, compreenderam com mais rapidez que a economia da URSS estava naufragando e que a vida se tornava cada vez mais difícil para o cidadão médio. Já em 1990, a CIA estimava --de modo bastante equivocado3-- que o PIB soviético equivalia a cerca da metade do valor americano (per capita, seria equivalente ao PIB atual de democracias estáveis como Coreia do Sul e Portugal).

Na realidade, dados recentes revelaram que a economia soviética, enfraquecida pela longa guerra no Afeganistão e pelo descaso do governo em relação a uma série de problemas sociais, encontrava-se cerca de 1 trilhão de dólares mais pobre do que indicava a estimativa da CIA e encolhia a uma razão de 5% ao ano, com a inflação mantendo-se em dois dígitos.

Considere esses dois fatores e seria mais fácil prever o colapso da URSS. Ao abrir a mídia e os mercados do país e conceder maior autoridade democrática aos seus cidadãos, Gorbatchov havia proporcionado ao povo um mecanismo para catalisar uma mudança no regime. E, devido ao estado deteriorado da economia do país, a população mostrou-se feliz em tirar proveito da oferta. O centro do sistema se mostrava fraco demais: não apenas os estonianos estavam cheios dos russos como estes estavam, quase na mesma medida, cheios dos estonianos, já que as repúblicas satélites contribuíam menos para a economia soviética do que recebiam em subsídios dados por Moscou.

Quando os domínios começaram a cair no Leste Europeu --Tchecoslováquia, Polônia, Romênia, Bulgária, Hungria e Alemanha Oriental estavam em meio a uma revolução em fins de 1989--, havia pouco que Gorbatchov ou qualquer outro pudesse fazer para evitar que o país desmoronasse. Muitos especialistas soviéticos conheciam partes do problema, mas poucos tinham colocado todas as peças do quebra-cabeça no lugar, e quase ninguém antecipou o súbito colapso da URSS.

Tetlock, inspirado pelo exemplo soviético, começou a fazer sondagens com especialistas de outras áreas, pedindo que fizessem previsões a propósito da Guerra do Golfo, da bolha imobiliária japonesa, de uma possível separação do Québec e do Canadá e de quase todos os grandes acontecimentos dos anos 1980 e 1990. O fracasso em prever o colapso da URSS seria uma anomalia ou as análises políticas dos "especialistas" raramente fazem jus à consideração que recebem? Suas pesquisas, que se estenderam por mais de 15 anos, foram publicadas, em 2005, no livro "Expert Political Judgment" [A avaliação dos especialistas em política].

A conclusão de Tetlock foi devastadora. Os especialistas ouvidos em sua sondagem --a despeito de cargos, experiência ou campo de atuação-- saíram-se só um pouco melhor do que prognósticos guiados pelo mero acaso e, ao preverem acontecimentos políticos, saíram-se pior até mesmo do que métodos estatísticos rudimentares.

Mostravam uma autoconfiança muito exagerada e eram péssimos no cálculo de probabilidades: cerca de 15% dos acontecimentos que disseram não ter a menor chance de ocorrer tornaram-se realidade, enquanto jamais aconteceram cerca de 25% dos eventos de cuja ocorrência estavam absolutamente certos. Não importa se as previsões dos especialistas diziam respeito a economia, política interna ou assuntos internacionais, suas avaliações se mostraram igualmente equivocadas em todo o espectro de temas.

A ATITUDE CORRETA PARA FAZER MELHORES PREVISÕES: PENSE COMO A RAPOSA

Ainda que, tomado em seu conjunto, o desempenho dos especialistas tenha deixado a desejar, Tetlock descobriu que alguns se saíram melhores do que outros. Entre os que tinham se mostrado piores, estavam aqueles cujas previsões eram citadas com maior frequência na mídia. Quanto mais entrevistas haviam concedido à imprensa, descobriu Tetlock, piores tendiam a ser suas previsões.

Outro subgrupo, contudo, saiu-se relativamente bem. Com sua formação em psicologia, Tetlock se interessara pelos estilos cognitivos dos especialistas, no modo como eles pensavam o mundo, e submeteu todos, então, a algumas perguntas extraídas de testes de avaliação da personalidade.

Com base nesses resultados, Tetlock conseguiu dividir seus especialistas ao longo de um espectro entre o que chamou de "porcos-espinhos" e de "raposas". A referência aos animais vem do título de um ensaio de Isaiah Berlin sobre o romancista russo Lev Tolstói, chamado "O Porco-Espinho e a Raposa". Berlin, por sua vez, extraiu seu título de um trecho atribuído ao poeta grego Arquíloco: "Muita coisa sabe a raposa; o porco-espinho, uma só, e grande".

A menos que você seja fã de Tolstói --ou de um estilo floreado--, não há motivo para ler o ensaio de Berlin, mas sua ideia básica é que escritores e pensadores podem, grosso modo, ser divididos em duas categorias:

"¢ Porcos-espinhos são personalidades de tipo A, que acreditam em grandes ideias4 --ou seja, certos princípios que regem o mundo com o rigor de leis da física e que sustentam praticamente todas as interações que ocorrem na sociedade. Pense em Karl Marx e a luta de classes ou em Sigmund Freud e o inconsciente. Ou em Malcolm Gladwell e o "ponto da virada".

"¢ Raposas, por outro lado, são criaturas afeitas a fragmentos, que acreditam numa infinidade de pequenas ideias e em adotar uma série de abordagens diferentes para um problema. Tendem a ser mais tolerantes em relação às nuances, à incerteza, à complexidade e às opiniões discordantes. Se os porcos-espinhos são caçadores e estão sempre em busca de uma presa grande, as raposas são animais coletores.

Raposas, descobriu Tetlock, são muito melhores em fazer previsões do que porcos-espinhos. Em relação à URSS, por exemplo, seus prognósticos tinham chegado mais perto do alvo. Em vez de encarar a URSS de maneira altamente ideológica --como um "império do mal" ou como exemplo relativamente bem-sucedido (e talvez até admirável) de um sistema econômico marxista--, viram-na, ao contrário, como aquilo que era: uma nação que funcionava cada vez pior e sob risco de se desintegrar. Enquanto as previsões dos porcos-espinhos eram pouco melhores do que opções escolhidas aleatoriamente, as raposas demonstraram habilidade para prever.

POR QUE PORCOS-ESPINHOS SE SAEM MELHOR NA TV

Encontrei-me com Tetlock para um almoço numa tarde de inverno, no hotel Durant, construção imponente e ensolarada nas imediações do campus de Berkeley. Como era de esperar, ele se revelou uma raposa: de fala mansa, era cuidadoso e fazia uma pausa de 20 ou 30 segundos antes de responder às minhas perguntas (para não me oferecer uma resposta impensada).

"Quais são os incentivos para um intelectual conhecido?", perguntou-me Tetlock. "Alguns integrantes da academia não se incomodam em ser anônimos, mas outros aspiram a ser intelectuais famosos, a se mostrar ousados e a associar probabilidades não negligenciáveis a mudanças bastante dramáticas. Com essa atitude, têm mais chance de atrair atenção."

Previsões grandiosas e ousadas --em outras palavras, no estilo dos porcos-espinhos-- têm maior probabilidade de levar seus autores à TV. Considere o caso de Dick Morris, ex-assessor de Bill Clinton que agora trabalha como comentarista para a Fox News. É um exemplo clássico de porco-espinho, cuja estratégia parece consistir em fazer uma previsão dramática sempre que possível.

Em 2005, Morris proclamou que o modo como George W. Bush lidou com o furacão Katrina iria ajudá-lo a recuperar sua reputação junto à opinião pública. Na véspera das eleições de 2008, previu que Barack Obama venceria no Tennessee e em Arkansas. Em 2010, Morris previu que os republicanos poderiam conquistar, com facilidade, cem cadeiras na Câmara. Em 2011, disse que Donald Trump concorreria para ser o candidato do Partido Republicano e que tinha "excelentes" chances.

Todas essas previsões se revelaram completamente erradas. Para Bush, o furacão Katrina significou o começo do fim, não o início de uma recuperação. Obama perdeu feio no Tennessee e em Arkansas --na verdade, ambos estiveram entre os únicos Estados nos quais seu desempenho foi pior do que o obtido pelo democrata John Kerry quatro anos antes. Os republicanos tiveram uma noite feliz em novembro de 2010, mas conquistaram 63 cadeiras, não 100. Trump desistiu de concorrer à Presidência apenas duas semanas depois de Morris ter insistido que ele tentaria entrar na disputa.

Porém Morris é ágil, tem boa conversa e sabe vender a si mesmo. Assim, ele continua sendo uma presença constante na Fox News e vendeu seus livros para centenas de milhares de pessoas.

Às vezes, raposas têm dificuldade de se enquadrar em culturas Tipo A, como a da TV, dos negócios e da política. Sua crença de que é difícil fazer previsões sobre muitos problemas e de que deveríamos assumir essas incertezas pode ser tomada equivocadamente como falta de autoconfiança. Sua abordagem pluralística pode ser encarada como falta de convicção; numa frase famosa, Harry Truman pediu "um economista de um lado só", frustrado pelo fato de as raposas do seu governo serem incapazes de lhe dar respostas inequívocas.

Acontece, porém, que as raposas fazem previsões muito melhores: elas reconhecem com mais rapidez até que ponto possíveis ruídos podem distorcer as informações e se mostram menos inclinadas a correr atrás de falsos sinais. Elas sabem mais a respeito daquilo que ainda não conhecem.

Se você estiver procurando um médico que preveja o desdobramento de determinado problema de saúde ou um consultor financeiro que dê dicas sobre como aumentar o retorno de suas aplicações, talvez seja melhor confiar numa raposa. Ela pode fazer promessas mais modestas; no entanto tem mais chances de êxito.

POR QUE PREVISÕES POLÍTICAS TENDEM A FRACASSAR

Atitudes típicas de uma raposa podem ser importantes quando se trata de fazer previsões sobre política, pois elas têm mais cuidado em evitar algumas armadilhas que podem levar os porcos-espinhos a fazerem papel de idiota.

Uma dessas armadilhas consiste simplesmente em ideologia partidária. Morris, apesar de ter assessorado Bill Clinton, identifica-se como republicano e levanta doações para os candidatos do partido --e suas opiniões conservadoras se encaixam na visão da emissora que o contratou, a Fox News. Mas os progressistas não estão imunes à possibilidade de serem porcos-espinhos.

Em meu estudo sobre a precisão nas previsões feitas pelos integrantes de "The McLaughlin Group", Eleanor Clift --normalmente a convidada mais progressista da equipe de colaboradores-- quase nunca emitia um prognóstico favorável aos republicanos que não fosse consenso no grupo. Isso pode tê-la ajudado quando previu o resultado das eleições de 2008, mas, a longo prazo, ela não se mostrou mais precisa do que seus colegas conservadores.

Especialistas do mundo acadêmico, como os estudados por Tetlock, podem sofrer com o mesmo problema. Na realidade, um pouco de conhecimento pode se tornar algo perigoso nas mãos de um porco-espinho com PhD. Uma das descobertas mais notáveis de Tetlock é o fato de que, enquanto as raposas tendem a fazer prognósticos cada vez melhores, o contrário pode ser dito a respeito dos porcos-espinhos: seu desempenho tende a piorar à medida que acumulam credenciais.

Tetlock acredita que, quanto maior a quantidade de fatos com que os porcos-espinhos lidam, mais oportunidades eles têm para permutá-los e manipulá-los de modo que confirmem suas visões preconcebidas. A situação é análoga à de um hipocondríaco colocado numa sala escura com conexão à internet. Quanto mais tempo lhe déssemos, mais informações ele teria à sua disposição e mais ridículo seria o autodiagnóstico ao qual chegaria; não demoraria muito para que visse um simples resfriado como peste bubônica.

Ainda que tenha descoberto que porcos-espinhos de direita e de esquerda fazem prognósticos igualmente ruins, Tetlock também notou que as raposas de todas as posições políticas mostravam-se mais imunes a esses efeitos. Raposas podem ser enfáticas em suas convicções a respeito de como o mundo deveria ser, mas normalmente conseguem separar essas percepções da sua análise sobre o modo como o mundo é, e sobre como será num futuro próximo.

Porcos-espinhos, ao contrário, têm maior dificuldade em distinguir sua análise dos ideais arraigados. Em vez disso, segundo Tetlock, eles criam "uma fusão indistinta entre fatos e valores, embolando todos juntos" e adotam uma visão preconcebida das evidências que examinam, enxergando o que desejam ver e não o que realmente existe.

Você pode aplicar o teste de Tetlock para saber se é um porco-espinho: suas previsões melhoram à medida que você ganha acesso a mais informações? Teoricamente, um número maior de informações deveria auxiliar bastante a formulação de previsões --é sempre possível ignorar uma informação se ela não parece ajudar muito. Porém, porcos-espinhos tendem a se embrenhar no meio de um cipoal.

Veja o caso de uma sondagem promovida pelo periódico "National Journal", abrangendo cerca de 180 políticos, consultores políticos, pesquisadores de opinião e analistas. A pesquisa é dividida entre partidários republicanos e democratas, porém as mesmas perguntas são dirigidas a ambos os grupos. Independentemente da posição política, o grupo que tende a assumir a atitude de porco-espinho é composto por elementos atuantes na política, que exibem suas cicatrizes de batalha com orgulho e veem a si mesmos presos a uma eterna luta contra seus antagonistas.

Poucos dias antes das eleições de 2010, no período entre campanhas presidenciais, o "National Journal" perguntou aos analistas políticos que colaboravam com a publicação se era provável que os democratas conservassem o controle da Câmara e do Senado. Havia quase um consenso a respeito dessas questões: os democratas manteriam o Senado, mas os republicanos assumiriam o controle da Câmara (a sondagem acertou as duas previsões).

Os integrantes de ambos os partidos também estavam praticamente de acordo a respeito das dimensões da vitória dos republicanos na Câmara; os especialistas democratas disseram que seus adversários conquistariam 47 cadeiras, enquanto os republicanos previram um ganho de 53 posições --diferença trivial considerando que existem 435 vagas na Câmara.

Em sua sondagem, contudo, o "National Journal" também pediu prognósticos para os resultados de 11 eleições específicas, incluindo disputas no Senado, na Câmara e pelos governos dos Estados. Aqui, as diferenças foram muito maiores. O conjunto de pessoas ouvidas mostrou-se dividido sobre quais seriam os vencedores nas disputas pelo Senado em Nevada, Illinois e Pensilvânia, a respeito da eleição para o governo na Flórida e sobre uma disputa especialmente decisiva para a Câmara em Iowa.

De modo geral, os republicanos ouvidos esperavam que os democratas ganhassem apenas uma das 11 disputas, enquanto estes esperavam vencer em 6. (O resultado, como era de esperar, foi mais ou menos um meio-termo entre as duas visões: os democratas venceram 3 das 11 disputas sondadas pelo "National Journal".)5

É óbvio que o partidarismo desempenhou algum papel aqui: democratas e republicanos estavam torcendo para seus próprios times. Contudo isso não basta para explicar a maneira pouco usual como os analistas ouvidos se dividiram ao responderem aos diferentes tipos de perguntas. Quando consultados em termos gerais sobre até que ponto os republicanos seriam bem-sucedidos, foi registrada ínfima diferença entre as pessoas ouvidas. Entretanto, os dois lados diferiam de modo profundo quando questionados sobre casos específicos, que traziam à tona as diferenças entre os partidos.6

Informações em excesso podem se tornar um mau negócio para um porco-espinho. Saber quantas cadeiras os republicanos provavelmente tirariam dos democratas era uma questão abstrata: a menos que tivessem examinado todas as 435 disputas, poucos detalhes adicionais poderiam ajudar a chegar a uma conclusão.

Ao contrário, quando indagados sobre qualquer uma daquelas disputas --digamos, a eleição para o Senado por Nevada--, os especialistas ouvidos dispunham de todo tipo de informação: não só as pesquisas de opinião mas novos relatos sobre a campanha, fofocas ouvidas de amigos ou julgamentos sobre os candidatos ao vê-los na TV. Talvez até conhecessem pessoalmente os candidatos ou pessoas que trabalhassem para eles.

Porcos-espinhos que contam com muitas informações constroem histórias --histórias que são mais nítidas e mais coerentes do que o mundo real, com protagonistas e vilões, vencedores e perdedores, clímax e desfechos e, geralmente, um final feliz para o time pelo qual torcem.

Mesmo com uma desvantagem de dez pontos, minha candidata acabará ganhando, que diabo!, porque conheço ela e os eleitores do Estado e porque talvez eu tenha ouvido algo de sua assessora de imprensa sobre a diminuição da diferença nas pesquisas de opinião --e você já viu o novo anúncio dela na TV?

Ao construirmos essas histórias, podemos perder a capacidade de pensar criticamente a respeito das evidências. Eleições costumam apresentar trajetórias emocionantes. Não importa sua opinião sobre as ideias políticas de Barack Obama, de Sarah Palin, de John McCain ou de Hillary Clinton em 2008: todos tinham histórias de vida carismáticas, e livros-reportagem sobre a campanha, como "Virada no Jogo", de John Heilemann e Mark Halperin, podiam ser lidos como intrincados romances best-sellers.

Os candidatos que concorreram em 2012 eram menos interessantes, mas ofereciam material mais do que suficiente para proporcionar a habitual combinação de clichês dramáticos, da tragédia (Herman Cain?) à farsa (Rick Perry).

É possível se perder nessa narrativa. Pode ser que a política seja um campo especialmente suscetível a previsões infelizes por causa dos elementos humanos envolvidos: uma boa eleição apela para nossas sensibilidades dramáticas.

Você pode ter algum envolvimento emocional com um acontecimento político e, ainda assim, fazer uma boa previsão a respeito, mas uma atitude de raposa --mantendo certo distanciamento-- pode trazer bons resultados.


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