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Diário do Rio - O mapa da cultura

Uma cidade bronzeada

Tom Jobim reforça a estatuária carioca

ALVARO COSTA E SILVA

Foi nas primeiras décadas do século 20 que o Rio confirmou a sua vocação para a estatuária. A completar a beleza natural, abriga a maior coleção de arte pública do Brasil, com artistas pioneiros --Mestre Valentim (1745-1813) e Rodolfo Bernardelli (1852-1931), por exemplo-- a contemporâneos, como Angelo Venosa e José Resende. Sem falar nos chafarizes e nas obras de ferro fundido de origem francesa. São 570 peças reconhecidas pelos órgãos de patrimônio.

De uns tempos a esta parte, no entanto, a coisa degringolou em homenagens a compositores, cantores, músicos, escritores e até jornalistas. Uma febre, uma moda de estátuas, que brotam do asfalto de um dia para o outro, como blocos de Carnaval ou barracas de camelô. Algumas, de gosto e feitura duvidosos, não fazem jus ao talento dos artistas homenageados.

E ainda sofrem depredações. Só a de Carlos Drummond de Andrade, na orla de Copacabana, a mais conhecida e visitada por turistas, teve os óculos roubados oito vezes. Hoje, é vigiada por uma câmera da CET do Rio, cujas imagens contam com a assistência do prefeito Eduardo Paes --ao menos, é o que ele garante fazer.

A próxima vítima: Tom Jobim. Não bastasse dar nome ao aeroporto internacional, motivo constante de confusão e dor de cabeça para cariocas e visitantes, o compositor, violão no ombro, virou bronze pelas mãos da artista plástica Christina Motta. Ainda não se sabe onde Tom ficará, se no Jardim Botânico ou em Ipanema.

MARCO DE VIDA EFÊMERA

No início da avenida Rio Branco, o bicho espantava pela magnitude: um enorme pórtico, com vão central em arco pleno, coberto por um cúpula com esculturas à volta; nas laterais, dois corpos mais baixos, também com vãos, e telhados; decoração sóbria, panos de paredes lisas.

Como os cerca de 30 edifícios construídos para a Exposição Internacional Comemorativa do Centenário da Independência, em 1922, o marco --cujo choque visual pode-se comparar à chegada de uma nave espacial na Cinelândia-- teve vida efêmera. Uma cidade inteira que se ergueu em menos de dois anos, e desapareceu de maneira fulminante: dez meses.

Portas monumentais, palácios e pavilhões, nacionais e estrangeiros, que ocuparam uma extensa área do Rio, indo do parque Passeio Público à ponta do Calabouço, incluindo o espaço recém-conquistado com o desmonte do morro do Castelo --quase tudo sumiu na poeira. De pé, sobraram quatro prédios, o mais famoso deles o Pavilhão da França, doado à Academia Brasileira de Letras, conhecido como Petit Trianon.

Uma mostra para lembrar a Exposição do Centenário ocupa o Centro Cultural Correios (rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro) até 9 de julho, de terça a domingo, das 12h às 19h, com entrada grátis. Além do resgate histórico e da divulgação de textos e objetos da época, destaca-se a rica iconografia, pertencente a arquivos e bibliotecas. É viajar no tempo e olhar uma cidade que podia ter sido.

Veja fotos da exposição do Centro Cultural Correios em folha.com.br/ilustrissima.

PEGUEI UM ITA NO NORTE

Um Dorival Caymmi de carne e osso --bem diferente do Dorival estátua, que fica no Posto 6, em Copacabana, e mais parece uma tartaruga ninja-- emerge do livro "O Que É Que a Baiana Tem? - Dorival Caymmi na Era do Rádio" [Civilização Brasileira, 292 págs., R$ 39,90].

Escrito por Stella Caymmi, neta do compositor, o livro retrata o período da época de ouro da música brasileira, iniciado no fim da década de 1920, com o advento da gravação eletromagnética, do rádio e do cinema falado. E mostra como Caymmi fez para vencer no Rio e se enturmar num meio dominado por extraordinários cantores e compositores. Nem tudo foi fácil como parece, e o baiano teve que se defender de algumas rasteiras.

SABOR E SUSTÂNCIA

Em 1955 o Gomes do Angu (que na verdade se chamava Vasconcelos ou Esteves, há controvérsias) armou uma barraquinha iluminada com lampião a querosene na praça Quinze para servir angu à baiana (iguaria que só existe no Rio) num prato de ágata. O resto é história.

Hoje dois restaurantes afirmam oferecer o sabor e a sustância do "verdadeiro Angu do Gomes": o Galeto 183, no mesmo número da rua de Santana, no Centro, só às quartas (ganhou, de lambuja, uma enorme rodela de tomate); e o propriamente dito Angu do Gomes, no largo da Prainha, 17, na Saúde.

É comer, lamber os beiços e tirar a dúvida.


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