Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrissima

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Imaginação

prosa, poesia e tradução

Três poetas

Poema pingado

por Adriano Scandolara

Na rodoviária do Hades
uma alma encosta ao balcão
e pede um pingado.

Cigarro inaceso à mão,
o tédio no terno impecável, frigidez
cruzando as pernas, o pé
equilibrando o salto.

Sombra de um café
servido frio igual
memória de outros tantos cafés
brejos de leite
teta vegetal pó descafeinado
os mesmos augúrios de sempre
nas borras.

Os dias que correram
em comerciais onde todos vivem alucinadamente
o permanente domingo dos séculos
tuas horas crepusculares à espera do momento
postergado

Como um elevador, música suave
conversa amena,
despencando no meio do caminho.

Menos uma colherada na mesura dos dias
há meia hora já você mexe esse café.

Garganta e olhos domados à base da catarse
do inexistente, os gritos
todos guardados
de uma só vez violariam
agora o silêncio do lugar

não fosse esse silêncio inviolável.

Mais ônibus chegam e partem
o pingado desce a goela, a máquina não para
os ponteiros do relógio
só para si próprios
apontam.

por Guilherme Gontijo Flores

Serão aquelas as crianças
de corridas à toa
por entre o gelo matinal?

agora tudo está na mais
profunda paz

o gelo desce sobre as torres
o gelo pousa sobre os olhos

agora tudo segue o mais
inútil branco
as rosas seguem brancas
os olhos seguem brancos
as mesmas fotos
onde dois velhos persistem
respirando do urânio
& encerram os portões do mundo
pelo próximo milênio

(um turista conquista
entrada do parque
esvaziado entre árvores)

o musgo cobre os muros
o interior das vidas
tudo intensa
aniquilantemente
branco

serão aquelas as crianças
delírio-sorridentes
serão os seus sorvetes
caindo como pétalas
por entre as ruas
de pripyat?

Sol por dentro

por Marcelo Sandmann

Há um sol
que brilha por dentro.

(Pelos ossos, pelo
sangue, pelos músculos,
pelos nervos.)

Ele arde na carne,
ferve na pele,
reverbera em pensamento.

Há um sol
no fundo do corpo,

lúcido, noite adentro.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página