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Imaginação Sete microdramas e uma entrevista MAURÍCIO PARONI DE CASTRODedicados a Sérgio Sant'Anna. A LINHA DO PROSCÊNIO
No final da apresentação de abertura do Festival Internacional de Microdramaturgia, a cortina desceu depois de dois minutos. Um ator ficou "preso" no proscênio.
Pausa. AMOR FONÉTICO
O marido a cercava de sussurros e presentes. Brincava horas e horas com os filhos. Quebrava o tédio ao embarcar para qualquer cidade europeia em que havia uma loja Ikea. Perambulava, obsessiva, pelas mercadorias expostas batizadas com aqueles nomes: bicicleta Leif; panela Lisbet; cortina Gunnhild; abajur Jørgen; sofá Magnus; cama Svenson; travesseiro Bjørn. Grisalha, atraente, fazia-se acompanhar -e oferecer- iguarias suecas do restaurante da loja. A BALADA DE ELECTRA
O sessentão se divertia numa casa de swing. No labirinto, penetrava misteriosas fendas de parede com as mãos. Suava. Tocava corpos desconhecidos do lado oposto. Eletrizado, ouviu suspiros mais consistentes. VÍTIMAS DE GUERRA
A maître de balé trabalhava no programa de dança para deficientes físicos da União Europeia. Bélgica, Théâtre Royal de la Monnaie. Entusiasmada, era severa com a delicadeza dos braços. Acreditava atenuar o sofrimento moral das bailarinas mutiladas no bombardeio de um teatro, ocorrido alguns anos antes na ex-Iugoslávia. CASANOVA NEGRO
Entretinha turistas perto da antiga prisão de Praga. Encapuçado, brandia um manchil de açougueiro com o corte cego. Explorava a sensação do jazer indefeso com a cabeça no tronco diante daquela figura, atenuada pelo fato de que o rapaz era negro e não usava luvas. Na Praga do século 17 não havia carrascos negros. A garoa rala banhava a cidade. Uma russa se apaixonou pela cena. Convidou o carrasco para beber cerveja. O MESTRE
Tadeusz Kantor estava muito aborrecido. Nada funcionava naquela criação. Aos berros, expulsou da sala de ensaio todos os presentes. Queria solidão. TESTE PARA ATORES
Na agência funerária do hospital geriátrico de Milão, corretor e coveiro napolitanos acompanhavam dois homens na escolha do ataúde. Um deles sacou o celular. ENTREVISTA
-Mr. Pinter, poderia elucidar de uma vez por todas a maior questão de sua obra: o que diferencia a pausa do silêncio? |
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