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Diário de Paris

As comédias do poder

Omapa da culturaBufão e musa das telas em intrigas palacianas

LUCAS NEVES

Dois personagens prosaicos espantaram a modorra do Palácio do Eliseu, sede do governo francês, no acender das luzes de 2014.

Primeiro foi o humorista Dieudonné M'Bala M'Bala, 47, forçado a anular a turnê de seu "one-man show" depois de o espetáculo ser proibido pelo Conselho de Estado (suprema corte administrativa) em quatro cidades. Os juízes acolheram o argumento do Executivo de "riscos à ordem pública".

No stand-up censurado, Dieudonné alveja o passado colonial francês, zomba dos gays, mas não esconde sua flor de obsessão: os judeus. Faz a apologia da câmara de gás, acusa a infiltração de uma suposta "máfia judaica" no show business e puxa o coro de "Shoananas" --canção cujo título funde o termo Shoah, termo hebraico para designar o holocausto de judeus sob o nazismo, ao vocábulo francês para "abacaxi".

Dieudonné se celebrizou como pai da "quenelle", gesto que consiste em pousar a mão esquerda sobre o ombro direito, enquanto o braço direito aponta para o chão. A pantomima, espécie de tradução, nos idos de 2005, de uma desaprovação visceral ao "sistema", não demorou a coincidir em seus shows com ataques verbais aos judeus. Surgiu a pergunta: seria na verdade uma releitura da saudação nazista?

A dúvida não impediu atletas, militares e jovens de replicar a pose, ostentando desinibição mesmo diante de locais sensíveis ao judaísmo, como o Muro das Lamentações, em Jerusalém.

NAMORADINHA DO HEXÁGONO

A segunda protagonista do janeiro eliseano é a atriz Julie Gayet, apontada por revistas de fofoca como amante do presidente François Hollande há 18 meses.

Aos 41 anos, bela e carismática, tem o "physique du rôle" de uma Jennifer Aniston do Hexágono. Projetada por comédias românticas, experimentou o filme "sério" (viveu uma soropositiva em "Clara et Moi", de 2004), mas volta periodicamente ao humor desopilante.

Atualmente, pode ser vista em dois títulos sem data de estreia no Brasil. O melhor é "Quai d'Orsay", em que encarna uma assessora do Ministério das Relações Exteriores que deita olhares pouco diplomáticos sobre o redator dos pronunciamentos do titular da pasta.

Já a viúva de "Les Âmes de Papier" (as almas de papel) contrata um escritor para alinhavar um compêndio de memórias que ajude o filho dela a fazer o luto do pai. Interrompamos a sinopse por aqui, antes da entrada enfadonha no terreno da fantasmagoria.

A LUA POR TESTEMUNHA

É irregular o retrospecto no cinema de crias da realeza artística francesa. Charlotte Gainsbourg saiu da sombra dos pais, mas não Chiara Mastroianni.

No fim de 2013, Alain Fabien Delon, 19, despontou no elogiado "Les Rencontres d'Après-minuit" (os encontros da madrugada), em que um casal recebe convidados arquetípicos (como A Cadela e O Garanhão) para uma orgia. É do estreante o papel d'O Adolescente, errática criatura da noite.

Não terá sido um grande desafio de interpretação: internado aos 16 anos pela mãe em uma clínica de reabilitação depois de ser pego com maconha, o ator escapou da instituição antes de ser encontrado pelo pai em um abrigo.

Pano rápido para novembro passado: Delon Jr. é condenado por lesão corporal. Por se tratar de réu primário, a pena foi suspensa. A Justiça entendeu que ele foi negligente ao deixar à vista uma arma durante uma festa; na ocasião, um disparo atingiu uma conviva.

PAI (ANTI)HERÓI

Saiu há pouco o disco "Post Mortem", do ator Guillaume Depardieu (1971-2008), filho de Gérard. Condenado aos 17 por tráfico de heroína, o rapaz acumularia penas e internações por episódios atribuídos à revolta contra um pai dito ególatra. Ele viria a morrer após uma pneumonia fulminante.

As letras do álbum, todas escritas por ele (e registradas um ano antes de sua morte, ainda sem acompanhamento; ouça em www.guillaume-depardieu.fr/musique), desenham um eu lírico atormentado, buscando luz própria, à margem da supernova paterna.


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