Índice geral Ilustrissima
Ilustrissima
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Diário do Rio

O MAPA DA CULTURA

Rendição às bicicletas

E a espera por mais 100 km de ciclovias

RUY CASTRO

NOS ANOS 90, quando o Rio sacrificou quilômetros de estacionamento na orla para abrir suas primeiras ciclovias, vozes influentes foram contra. Uma delas, a de nosso amigo Paulo Francis. "O Rio não tem um único ciclista!", ele bradava. De fato, até pela falta de pistas exclusivas, quase ninguém pedalava pela cidade -e a ideia de ver o próprio Francis num selim, de terno da Brooks Brothers e capacete, era tão absurda quanto hilariante.

Mas as ciclovias foram implantadas e receberam adeptos. Estes se tornaram milhares e as pistas se espalharam. Hoje há 240 quilômetros de pista, ligando o Recreio ao aeroporto Santos-Dumont, e com a promessa de mais cem quilômetros nos próximos anos. Ainda não se compara à Europa, mas é um começo -assim como o projeto Bike Rio, que acaba de plantar novos bicicletários na zona sul, com 600 bicicletas de cor laranja para serem alugadas. População e turistas estão sendo gratos à iniciativa.

Não ando de bicicleta há mais de 30 anos. Mas estou pensando em checar aquela história de que, se um dia você aprendeu, nunca mais esquecerá. Já prevendo tombos, acho que vou pedalar ali pelas imediações do Hospital Miguel Couto.

SAUDADE DE LEWGOY

José Lewgoy -astro do cinema e da TV morto em 2003 e tema do documentário "Eu Eu Eu, José Lewgoy", de Cláudio Kahns, em cartaz- estava certa vez na seção de livros da Harrods, em Londres, quando estourou um bafafá em alguma parte do departamento. Gritos, fotógrafos, correrias. Ele perguntou a um funcionário: "O que está havendo?". O homem respondeu: "É Sophia Loren. Sempre que ela aparece é assim!".

Lewgoy comprou seus livros e, a custo, venceu a multidão que o separava da porta. O alarido continuava até a rua. Quando ele chegou à calçada, um transeunte lhe perguntou: "O que está havendo lá dentro?". E ele, na lata: "É Sophia Loren e José Lewgoy. Sempre que eles aparecem é assim!".

Essa é uma história típica de Lewgoy, não sei se no filme. Nos anos 70 e 80, ele ia todas as noites ao restaurante Helsingor, no Leblon, onde tinha mesa cativa. Os amigos não sabiam o que Lewgoy tinha de mais encantador, se a inteligência ou o mau humor: "Não gosto de praia, Carnaval e futebol. Por que moro no Rio?". Pois é, por quê? Nunca se decidiu e, com isso, todos que o amávamos saímos ganhando.

ASSEMBLEIA PERMANENTE

Há alguns anos, o garoto que me atendia numa livraria da praça 15 me confidenciou: "Um dia, vou ter uma livraria especializada em livros sobre o Rio". Na época, 1995, com o Rio em baixa e demonizado pela mídia, a ideia parecia improvável. Mas, não muito depois, Rodrigo Ferrari, o garoto, juntou suas economias e abriu a livraria Folha Seca -primeiro, numa salinha dentro do Centro Helio Oiticica, na rua Luiz de Camões, no Centro; depois, transferiu-se para a rua do Ouvidor, histórica, mas triste, deserta e longe dos seus tempos de glória.

Muito por causa da Folha Seca, a Ouvidor, entre as ruas Primeiro de Março e do Mercado, voltou a ser um dos pontos mais fascinantes do Rio. Em pouco tempo, ao redor da livraria, brotaram restaurantes, brasseries, galerias de arte, um sebo de livros, sabe-se lá quantos botequins com mesa na calçada e, nas tardes de sábado, uma roda de samba comandada pelo prodigioso cantor Gabriel Cavalcante -substituída há pouco por uma roda de choro, mais calminha, mas não menos empolgante.

Rodrigo é o herdeiro de uma bela tradição de livreiros e editores cariocas, desde seu ídolo Francisco de Paula Brito (1809-61). À Folha Seca acorrem escritores, sambistas, cartunistas, boêmios e turistas. Ali, entre milhares de títulos sobre qualquer assunto, mas todos tendo a ver com o Rio, sua livraria parece uma assembleia em reunião permanente -em defesa dos interesses da cidade e da inteligência.

DE POTÊNCIA PARA POTÊNCIA

Os herdeiros da cantora Carmen Miranda resolveram entregar a gestão da marca da Pequena Notável a profissionais -a Up-Rights, uma empresa do ramo e com experiência em representar artistas. Ótimo.

Antes tarde do que nunca. Com isso, cessam as perseguições jurídicas a fãs sinceros, interessados em apenas homenagear a cantora -e Carmen finalmente começa a falar de potência para potência com as grandes empresas que desejam explorar a sua imagem.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.