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Diário de Pequim

O MAPA DA CULTURA

Cera quente

Steve Jobs vira estátua no escaldante verão chinês

MARCELO NINIO

Inaugurada recentemente no centro de Pequim, sob um calor de derreter, a versão local do tradicional museu de cera britânico Madame Tussauds é um termômetro do gosto dos chineses por celebridades.

Quem dá as boas-vindas, ainda do lado de fora, é uma estátua do norte-americano Steve Jobs, fundador da empresa de computação Apple. Morto em 2011, Jobs é adorado pelos fãs de tecnologia do país, embora a marca sofra restrições do governo para uso oficial, por medo de espionagem.

Entre as 60 figuras de cera do museu, os destaques na ala nacional são empresários de sucesso como Robin Li, fundador do Baidu, o "Google chinês", e estrelas do esporte, como o jogador de basquete Yao Ming.

A surpresa é a estátua do músico Cui Jian, conhecido como o "padrinho do rock" chinês. Cui passou anos proibido de se apresentar em público depois que uma de suas músicas tornou-se o hino dos protestos pró-democracia de 1989 na praça da Paz Celestial, que fica a poucos metros do museu.

No setor político do espaço, os visitantes fazem fila para tirar fotos com a rainha da Inglaterra, com os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da Rússia, Vladimir Putin. Mas nada de personalidades chinesas. "Somos um povo conservador", diz um funcionário do museu. "Para nós, política não é diversão."

Do outro lado da rua, na praça da Paz Celestial, é possível visitar, de graça, o corpo embalsamado do líder comunista Mao Tse-tung.

AGOSTO NA PRAIA

Com temperaturas nunca abaixo dos 30°C, o sufocante verão em Pequim dá à megalópole de 20 milhões de habitantes um ar de cidade do interior. O espírito coletivo dos chineses aflora e famílias inteiras sentam em cadeiras dobráveis na calçada, abanam-se com leques ou o que estiver à mão, olham a vida passar ou debruçam-se sobre carteados ou pedras de "mahjong", o popular jogo de mesa chinês. Ao entardecer, casais saem de pijama para passeios pelas ruas mais movimentadas, como se estivessem no quintal de casa.

Os guarda-chuvas saem do armário, afinal o chique é a palidez cosmopolita. Pele bronzeada é coisa de camponeses que labutam ao sol --e ninguém quer ter a aparência de um migrante caipira.

No auge do calor, os líderes máximos do país fazem as malas e se mandam de Pequim. Desde os tempos de Mao, é tradição a cúpula comunista se reunir durante o verão em Beidaihe, um balneário de águas turvas que nos últimos anos fica apinhado de turistas russos.

Em meio à maior campanha anticorrupção em décadas, é lá que será decidido quem serão os próximos comunistas que verão a chapa esquentar.

DE XI, PARA DILMA

Entre os mimos levados pelo líder da China, Xi Jinping, para presentear a presidente Dilma em sua mais recente visita ao Brasil, estavam DVDs com três exemplos da recente produção cinematográfica e de teledramaturgia chinesa.

A Folha obteve as sinopses das obras, traduzidas para o português especialmente para a ocasião. O filme escolhido foi "O Amor Não é Cego", comédia água com açúcar que conta a história de uma moça que "sai do fundo do poço" após ser abandonada pelo namorado.

Dilma também ganhou coleções completas de telenovelas curtas da TV chinesa: "Jovens de Pequim" (36 capítulos) e "Na Terceira Idade com Amor" (45 capítulos).

Se depender dos mandachuvas chineses, é só o começo. Várias novelas estão em processo de tradução e dublagem para o português. Pequim aposta no gosto do brasileiro pelo gênero para exportar sua produção e difundir a cultura chinesa no Brasil. Novela também é "soft power".

AI

Algo mudou na perseguição do governo a Ai Weiwei, o artista chinês mais famoso do mundo. Ele continua proibido de deixar o país. Mas, pela primeira vez em anos, a censura deixou passar uma entrevista dele numa publicação nacional. A premiada foi a revista "Time Out Beijing". Nem ele entendeu.

"As autoridades estão numa posição de tamanha superioridade que nunca têm que dizer o porquê", afirmou Ai Weiwei, que arriscou um palpite. "Acho que eles estão concluindo que sou só um artista."


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