Imaginação
PROSA, POESIA E TRADUÇÃO
Poemas
Abril e silêncio
A primavera jaz abandonada
Uma valeta de cor roxa escura
move-se ao meu lado
sem restituir nenhuma imagem.
A única coisa que brilha
são algumas flores amarelas.
Carrego-me dentro de minha
própria sombra como um violino
em seu estojo.
A única coisa que quero dizer
paira bem fora do alcance
como a prataria da família
numa casa de penhores.
Noite de inverno
A tempestade aproxima seus lábios da casa
e assopra para fazer som.
Eu durmo, inquieto, mudo de posição, com os
olhos fechados leio o livro da tempestade.
Mas os olhos da criança se arregalam no escuro
e a tempestade choraminga pela criança.
Ambas gostam de ver a lâmpada que oscila.
Ambas estão a meio caminho da linguagem.
A tempestade tem mãos e asas infantis.
A caravana se apressa em direção à Lapônia
e a casa sente a constelação de pregos
mantendo as suas paredes juntas.
A noite está quieta sobre nosso chão
(onde todos os passos evanescentes
deitam-se como folhas submersas numa lagoa)
mas lá fora a noite é selvagem!
Uma tempestade mais grave se move sobre todos nós.
Aproxima seus lábios de nossa alma
e assopra para fazer som. Tememos que
a tempestade venha a destruir tudo que está dentro de nós.
Vendo através do solo
O sol claro se dissolve na cerração.
A luz pinga, cava o seu caminho em direção
aos meus olhos subterrâneos que estão lá
sob a cidade, e eles vêem a cidade
de baixo: ruas, fundações das casas -
como fotos aéreas de uma cidade em tempos de guerra
mas ao contrário: fotografar da toca...
retângulos mudos em cores sombrias.
É lá que as coisas acontecem. Ninguém pode diferenciar
os ossos dos mortos daqueles dos vivos.
A luz do sol cresce, inundacabinas e cascas.