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Diário de Berlim

O MAPA DA CULTURA

'Despalavra' de 2011

Os crimes neonazistas e suas repercussões

SILVIA BITTENCOURT

UM ESCÂNDALO abalou a Alemanha no final do ano, quando foi descoberta uma rede de neonazistas agindo por quase uma década na clandestinidade. Ela foi responsável pela morte de nove comerciantes estrangeiros da área gastronômica, entre outros crimes.

O caso chocou a opinião pública, indignada com a ineficiência da polícia -até a captura dos responsáveis, as autoridades consideraram os crimes "obra da máfia", chamando-os depreciativamente de "os assassinatos dos 'döner'", numa alusão ao sanduíche turco popular na Alemanha, algo como o nosso churrasquinho grego.

O escândalo foi parar nos cadernos culturais. O diário "Süddeutsche Zeitung", de Munique, tratou da subcultura neonazista na Europa. Mostrou que as autoridades e a imprensa vêm menosprezando a agitação da extrema direita em torno dos shows de rock, onde predominam refrãos racistas.

O "Taz", de Berlim, questionou por que os filmes alemães tratam mais do extremismo de esquerda da antiga organização terrorista RAF, atuante entre os anos 70 e 90, do que com o atual extremismo de direita. Para o crítico Bert Rebhandl, o terrorismo de direita não está ainda resolvido e exige "sutileza" de quem quiser lidar com ele.

Chega então na hora certa o filme "Kriegerin" ("Combat Girls"), premiado na última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e que acaba de estrear na Alemanha. Conclusão de curso do jovem cineasta David Wnendt, o filme traz de forma exemplar a história de uma jovem neonazista no leste do país.

Atual e explosivo, destacou-se nas principais salas de cinema.

"DESPALAVRA"

A expressão "assassinatos dos 'döner'" ("Döner-Morde", em alemão) acaba de ser eleita a "despalavra" de 2011. A eleição é feita por germanistas com a ideia de chamar a atenção para expressões adotadas pela mídia e fomentar a consciência linguística no país.

A maioria das expressões eleitas tem conotação negativa, por isso "despalavra". "Döner-Morde", segundo a linguista Nina Janich, banaliza a morte em série dos estrangeiros e discrimina as vítimas, reduzindo-as a um sanduíche.

Esta foi a 21° edição da campanha "Despalavra do Ano", que já elegeu expressões como "bancos necessitados", tirada da crise financeira em 2008, e "guerreiros de deus", sobre os talebans, em 2001.

BIOGRAFIA CRÍTICA

"Vida e Lenda" ("Leben & Legende", Alpenblick, cerca de R$ 46 a edição para Kindle) teria sido apenas uma entre várias biografias de Heinz Berggruen (1914-2007), não tivesse a historiadora Vivien Stein desmantelado a vida desse berlinense, que foi o maior colecionador de arte da Alemanha.

O judeu Berggruen deixou a Alemanha em 1936, durante a ditadura nazista. Viveu nos Estados Unidos, na França e na Inglaterra até voltar a Berlim, em 1996. Quatro anos depois, vendeu à cidade sua coleção com obras de Picasso, Matisse e Paul Klee.

Celebrado pela mídia, Berggruen tornou-se uma instituição no país, até morrer, em 2007. Foi enterrado em Berlim com honras de chefe de Estado. Mas a americana Stein, filha de judeus, retrata o colecionador como oportunista e especulador.

Diz que nos anos 30 e 40, na condição de jovem jornalista, ele levava uma vida alienada tanto na Alemanha de Hitler como no exílio, escrevendo textos que menosprezavam a situação dos judeus no país onde nascera.

O livro chocou a crítica, que ressaltou a importância da coleção e da reconciliação de Berggruen com a Alemanha. Para eles, a historiadora o transformou numa "vítima de segunda classe" do nazismo.

NOVO JORNAL

A comunidade judaica alemã quer mostrar que está ressurgindo. Desde 1° de janeiro vem sendo editado o jornal "Jewish Voice from Germany", a primeira publicação feita na Alemanha para as comunidades judaicas de fora do país.

Segundo o editor, Rafel Seligmann, a opinião pública internacional sabe pouco sobre a vitalidade da comunidade judaica alemã, hoje calculada em 200 mil pessoas (antes da Guerra, eram cerca de 500 mil). Além dos imigrantes vindos do leste, o país vem atraindo artistas e empresários israelenses, abrigando com isso a comunidade judaica que mais cresce no mundo.

O jornal também pretende atrair leitores comuns. Escrito por nomes conhecidos da imprensa alemã (entre eles vários não judeus), ele traz artigos de cultura, política e economia, além de tratar de questões atuais como a crise do euro.

Trimestral, circulará em instituições judaicas, mas tem versão on-line, também em inglês (jewish-voice-from-germany.de).

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