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Diário de Tóquio

O mapa da cultura

Bom de bola vende bem

A onda da autoajuda de atletas no Japão

ANGELO ISHI

Em 1993, quando Zico começava a construir a era de ouro do Kashima Antlers e a se consagrar como um deus do futebol no Japão, a editora Goma lançou o livro "Zico No Leader Ron" (Zico ensina como ser um líder).

Por aqui é sempre assim: todo esportista que ganha projeção logo lança um livro de autoajuda ou do gênero motivacional. Mas nunca as livrarias estiveram tão repletas de obras de futebolistas no topo da lista dos mais vendidos.

O best-seller do momento é "Kokoro o Totonoeru" (como ordenar a sua mente), com o subtítulo "56 dicas para atrair a vitória". O "autor" é Makoto Hasebe, o capitão da seleção japonesa de futebol, que atua pelo clube alemão Wolfsburg. Escrevo "autor" com aspas porque é evidente que esses livros são escritos por "ghost-writers" contratados pelas editoras.

Ele se destaca de outros do gênero porque não tem vergonha de assumir na capa que é o "primeiro livro de 'jikokeihatsu' (autoajuda) deste craque do futebol". Também na capa está o recado que ajudou a alavancar as vendas: "Os direitos autorais serão revertidos inteiramente para as vítimas do terremoto/tsunami". Lançado pela Gentosha após a tragédia de março do ano passado, já ultrapassou a marca de 1 milhão de exemplares.

Já o livro "Nippon Danji" (homem japonês), lançado pela Popurasha no ano passado, de Yuto Nagatomo, que joga na Internazionale de Milão, perde para Hasebe em vendas (400 mil exemplares), mas os dois empatam na profundidade dos ensinamentos (por exemplo, "enxergue o obstáculo como uma chance de aprimoramento").

Mas Nagatomo marcou um golaço de originalidade ao escalar sua mãe, Rie, como autora de "Kokorowa Tsuyoku Naru" (a mente se fortalece), lançado em janeiro pela Wanibooks com o subtítulo "manual da família Nagatomo para criar filhos que serão amados por todos".

CONSELHOS DE CAMPEÃ

Outra que virou queridinha das editoras é Homare Sawa, a capitã da seleção japonesa feminina, que ganhou a Copa do Mundo. Sawa foi eleita pela Fifa a melhor do mundo de 2011 ao lado de Lionel Messi.

Ela "escreveu" dois livros: "Makenai Jibun Ni Naru Tame no 32 no Leader-ron" (32 dicas do bom líder para se tornar alguém que não perde) e "Yume o Kanaeru" (realize o seu sonho), com o subtítulo "64 maneiras de concretizar suas ideias". A editora é diferente (Tokuma), mas o conceito, o título e a capa são idênticos ao do Hasebe.

Plágio descarado ou inocente inspiração? Tire suas conclusões conferindo neste link do blogueiro Ashishi: twitpic.com/7bwqqd.

Para completar o time de craques-escritores, Kazu (ex-Santos e ex-seleção japonesa) tem "Yamenaiyo" (não desisto), publicado pela Shincho, "Sokodikara" (força interior), da PHP, e "Dear Kazu", que sai pela Bungei Shunju, com 55 cartas dos amigos do jogador-entre eles, Pelé e Zico.

DUELO LITERÁRIO

O governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, anunciou que vai se aposentar do corpo de jurados do Prêmio Akutagawa, o mais importante para livros de ficção do país, do qual ele é o mais jovem premiado: tinha 23 anos quando seu "Taiyo no Kisetsu" (estação do Sol) ganhou em 1956. A bronca dele não é com a onda da autoajuda, mas com a literatura dita autêntica.

Ishihara fez a declaração logo após a divulgação do vencedor deste ano e deu a entender que ele era medíocre: "Não vale a pena, pois o nível das obras vem caindo demais e me entediam".

Shinya Tanaka, o vencedor deste ano com "Tomogui" (canibalismo), revidou: "Fiquei em dúvida se deveria recusar o prêmio, mas vou aceitá-lo para evitar confusão na governança da capital". Quem gostou da troca de farpas foi a editora Shueisha, pois o noticiário sensacionalista ajudou a alavancar as vendas para mais de 200 mil exemplares, número espantoso para o gênero.

CASANDO NO CINEMA

"Yubari de Couple" (casando em Yubari) é o nome de um evento muito aguardado pelos solteirões cinéfilos. Acontece hoje, como parte do Festival de Cinema de Yubari, em Hokkaido, extremo norte do país.

É um "namoro no cinema" restrito a candidatos com pretensões sérias. Os inscritos têm um tempo para conversar, almoçar, escolher o parceiro para ver o filme juntos e se declarar.

O evento estreou no ano passado e virou notícia porque dois casais oficializaram sua união em seguida, comprovando a tese dos organizadores: se quer um parceiro para a vida inteira, procure alguém com o mesmo gosto cinematográfico.

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