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Diário de Berlim

O MAPA DA CULTURA

A vanguarda esquecida

Cem anos da Der Sturm e 80 de Richter

SILVIA BITTENCOURT

O DIÁRIO BERLINENSE "Tagesspiegel" foi taxativo: a cidade dormiu no ponto e se esqueceu de comemorar os cem anos da galeria Der Sturm (a tempestade), centro da vanguarda expressionista, que lançou no início do século passado nomes como August Macke, Wassily Kandinsky e Marc Chagall.

Foi a cidade de Wuppertal, conhecida pelo balé de Pina Bausch, que aproveitou a deixa. Montou em seu principal museu, o Van-der-Heydt, uma bela exposição com os expoentes desta que se tornou a mais importante galeria alemã de arte até o final dos anos 20.

É a primeira vez que uma grande mostra recupera a história específica da Sturm e dos grupos que com ela ganharam destaque, como O Cavaleiro Azul, de Kandinsky, Paul Klee e Franz Marc.

Faz sentido Wuppertal sediar tal evento, pois lá e em outras cidades da região do Reno aconteceram as primeiras exposições expressionistas. Além disso, a galeria berlinense foi criada por Herwarth Walden, escritor, músico e promotor cultural que era casado com a poeta e artista wuppertalense Else Lasker-Schüler. Ela apresentou ao marido jovens desconhecidos do meio artístico da época.

Walden também fundara, em Berlim, em 1910, a revista "Der Sturm", voltada para a cultura e as artes. Dois anos depois inaugurou a galeria, na antiga Potsdamerstrasse. Hoje, o local é uma entrada lateral de um shopping da famosa Potsdamer Platz. Nada remete à história daquele importante centro irradiador de vanguardas.

ANIVERSÁRIO

Berlim acertou nas comemorações dos 80 anos do alemão Gerhard Richter, um dos principais nomes da arte contemporânea. Uma restrospectiva cobre todas as fases do pintor, a quem o jornal britânico "The Guardian" chamou de "o Picasso do século 21".

Intitulada "Panorama", a mostra apresenta, na arquitetura ampla e aberta da Nova Galeria Nacional, quase 150 trabalhos do artista. Marcante é sua heterogeneidade, já que Richter nunca se fixou num estilo ou tema, sempre variando entre o figurativo e o abstrato.

Ali estão antigas obras de fotografia e pintura, objetos de vidro e espelho e painéis abstratos. Inédita é a "versão 1" da obra "4.900 Cores", com quase 200 quadrados coloridos e envernizados circundando a mostra e acompanhando a fachada de vidro do museu. Veja imagens em bit.ly/grichter.

Já na Antiga Galeria Nacional, na ilha dos museus, encontra-se a sua mais famosa obra, "18 de Outubro de 1977", um ciclo de 15 pinturas em preto e branco, lembrando o auge do terrorismo praticado pelo grupo alemão RAF.

CRÍTICA

Um escândalo abalou a recente Feira de Livros de Leipzig. Um crítico da revista "Der Spiegel" questionou o que estava por trás de "Império", a última obra do suíço Christian Kracht, hoje um dos principais nomes da literatura em alemão. Sugeriu que Kracht era um autor nacionalista e racista.

Editado pela Kiepenheuer & Witsch, o livro traz a história de August Engelhardt, um alemão vegetariano e adepto do nudismo, que parte no início do século passado para a Nova Guiné, antiga colônia do país no sudoeste do Pacífico. Com estilo e linguagem rebuscados, mostra a evolução de Engelhardt em direção a um antissemitismo e à loucura.

Vários escritores, como a Prêmio Nobel Elfriede Jelinek, saíram em defesa de Kracht, afirmando que a crítica colocava em perigo a liberdade artística. O autor, por sua vez, ameaçou cancelar as leituras públicas que faria em Leipzig e em várias cidades alemãs.

Mas recuou e vem promovendo a obra pelo país. Limita-se a leituras e evita discussões.

"MULTIKULTI"

O tcheco Michael Stavaric, o albanês Ilir Ferra e o húngaro Akos Doma ganharam neste ano o Adalbert-von-Chamisso, prêmio concedido a autores que não tiveram o alemão como língua materna.

Suas famílias migraram para a Alemanha (ou Áustria, caso de Stavaric e Ferra), e por isso eles tiveram de aprender a língua de Goethe. Deste aprendizado surgiu o amor pela língua e pela literatura.

O prêmio existe desde 1985, quando se formava aqui a primeira geração de escritores filhos de imigrantes. A chamada "literatura de migração" ou "multicultural" vem ocupando espaço importante dentro da literatura contemporânea em língua alemã, onde hoje se destacam nomes como György Dalos, húngaro, e Rafik Schami, sírio.

Adalbert von Chamisso foi um francês que viveu na Berlim do século 19 e se tornou, já na sua época, um dos maiores poetas da Alemanha.

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