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Imaginação

PROSA, POESIA E TRADUÇÃO

RODRIGO GARCIA LOPES

ROMANCE POLICIAL

A lanterna da lua banhava o morto.

No rosto do detetive, nenhum sopro

A não ser o ar pesado do mangue, o corpo

Caído, espesso sangue, e o pouco

Dito pelo policial com cara de mau

Que agora segurava um castiçal

Interrogando a loira de olhos negros

Que trabalhava para um restaurante grego

Da grana e dos bilhetes estranhos no porta-luvas,

Do estranho esgar de sorriso, do sangue em sua luva.

E antes que a canção no rádio acabe

Ele diz: "Para salvá-la, só um milagre".

Nas mãos, a carta rasgada ao meio, garrafa de uísque

Pela metade. Mas ainda é cedo para que ele se arrisque.

Nada ficou claro nos depoimentos, de como essa sereia

Foi encontrada pela estrada à lua cheia:

"Do que não se pode falar, deve se calar",

Ela disse, bem no momento dele virar

E ser beijado por seus lábios fatais.

A lua aumentava seus cristais.

Seguiu-se um minuto de silêncio

E os grilos pontuavam um indício. Ela disse:

"As pistas estão em toda parte, em seu diário,

No dia dezesseis em vermelho no calendário".

Enquanto o detetive revistava a lua

A loira derramou uma poção branca na sua

Garrafinha de uísque. "Nessa profissão, é preciso jeito

Para resolver este quase crime perfeito".

Ela não dizia nada, ou quase nada, só o olhava

Sabendo que a verdade estava em cada palavra.

A esta altura, tudo parecia bem nítido

E agora ele a forçava a beber o líquido.

QUARTO ESCURO

O detetive avança pela desordem do estúdio.

A mobília está calada como testemunha.

Lá fora folhas se reviram, se estudam.

O telefone calado como um caramujo.

Um ano depois e todas as pistas

Deram em becos sem saída e luto.

"Nada disso está acontecendo, escuto

meus próprios passos sobre o escuro.

Dois gatos negros transando num muro."

E o criminoso ali perto,

pronto para revelar quase tudo.

E na pequena floresta da biblioteca

O verde é um código secreto.

O detetive deita e cai num sono profundo.

E a carta o tempo todo sobre o criado-mudo.

SOBRE OS POEMAS Os dois poemas aqui publicados fazem parte da coletânea "Estúdio Realidade", que Rodrigo Garcia Lopes lançará no segundo semestre, pela Iluminuras. O autor prepara também o lançamento de seu primeiro romance policial.

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