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Diário de Bogotá

O mapa da cultura

Que viva a literatura

A vida (antes dos 25) de Andrés Caicedo

RAQUEL COZER

No terceiro piso da Luis Ángel Arango, a principal das megabibliotecas de Bogotá, duas salas estão ocupadas por cartazes, livros e manuscritos de Andrés Caicedo, autor tão celebrado na Colômbia quanto desconhecido no Brasil.

Ou seria melhor dizer tão celebrado hoje na Colômbia quanto foi pouco conhecido em vida entre seus conterrâneos, como esclarece o nome da mostra, "Morir y Dejar Obra", em cartaz até o fim de maio.

A vida de Caicedo, escritor e dramaturgo apaixonado por cinema, daria um bom filme. Ele nasceu em 1951, em Cali, e, apesar da rígida disciplina de leitura e crítica literária mantida desde cedo, teve em vida só dois livros publicados.

"El Atravesado" saiu em 1975, em edição paga pela mãe. Do segundo, "¡Que Viva la Música!", ele recebeu a primeira cópia, editada pela Colcultura, em 4 de março de 1977. Horas depois ingeriu 60 pílulas de calmante. Tinha 25 anos.

A chave para o suicídio estava no romance, no qual a protagonista loira e rica explora o potencial festivo de Cali. "Viver mais de 25 anos é uma vergonha", diz o texto.

Caicedo começou a escrevê-lo em Hollywood, onde chegou em 1973 para entregar quatro roteiros seus a Roger Corman, o diretor de filmes B. Não conseguiu, mas voltou com a paixão pelo cinema exacerbada. Em 1974, criou a revista "Ojo al Cine". Um de seus amigos cinéfilos daqueles tempos, Luis Ospina, é o curador da mostra.

A exposição inclui cartazes que Caicedo desenhou quando dirigia o Cineclube de Cali. Um deles é um chamado para uma festa, que cobra 20 pesos dos homens e "só um sorriso" das mulheres. E há muitas cartas, gênero em que ele imaginava se sair melhor, ao ponto de ter feito cópias em papel carbono de todas que enviou a amigos.

CAFÉ LITERÁRIO

Traduzido em vários países, Caicedo é chamado de "inimigo número 1 de Macondo", pelo estilo tão diferente do de seu conterrâneo mais famoso, Gabriel García Márquez. Seus livros, inclusive póstumos, saem hoje pela Norma, uma das maiores editoras do país.

Isso significa que seus romances e contos só são encontrados facilmente nas grandes lojas. "A Norma não chega às pequenas", lamenta Carlos Torres, dono de uma das livrarias mais charmosas de Bogotá, a Luvina, numa tranquila esquina do badalado bairro de Macarena.

A Luvina é ponto de encontro de intelectuais, característica de que Torres se orgulha. Aos visitantes, mostra no laptop o site luvi

na.com.co, onde disponibiliza fotos de todo mundo importante que passou por lá, como os autores Fernando Vallejo e William Ospina.

"Os livros na Colômbia não são um negócio lucrativo", diz Torres, que organiza eventos semanais, como exposição de fotos e exibição de filmes no segundo andar. "O que nos sustenta é o café."

LETRAS BRASILEIRAS

Uma baiana com um livro-tabuleiro sobre a cabeça, coberto por canetas em forma de bananas, ilustra a capa do caderno mensal "Lecturas", encartada no jornal "El Tiempo" do último domingo.

(A ilustração segue um padrão; em 2008, capa de edição dedicada ao Brasil do caderno cultural do argentino "Perfil" também mostrava canetas em forma de bananas).

Com a homenagem ao Brasil preparada pela Feira Internacional do Livro de Bogotá, que começa nesta quarta-feira, nomes brasileiros aparecem como nunca.

O sumário do suplemento do "El Tiempo" destaca seis "grandes autores": a sempre queridinha por lá Nélida Piñon, Chico Buarque, Rubem Fonseca, Jorge Amado, Machado de Assis e Paulo Coelho.

TEATRO COLOMBIANO

A cidade receberá a feira literária menos de duas semanas após ter sediado o 13o Festival Iberoamericano de Teatro de Bogotá, evento bienal criado em 1988 pela argentina Fanny Mikey (1930-2008).

A atriz e produtora é nome de uma das principais salas de teatro da cidade hoje em dia, mas há quem a critique por ter levado a febre do "teatro de cabaré" a Bogotá.

Um dos grupos colombianos mais elogiados por escapar disso é o Casa Ensamble, que compareceu com nada menos que oito espetáculos no festival, incluindo uma montagem de "Blackbird", de David Harrower, e o debochado "El Club del Tropel", que transporta um espetáculo de coliseu romano a um ringue de boxe, ao som de uma banda de rock.

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