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Diário de Moscou

O MAPA DA CULTURA

Todos os Babencos

Os parentes de Hector espalhados pela Europa

MARINA DARMAROS

DE PASSAGEM PELA capital russa para presidir o júri do 34° Festival Internacional de Cinema de Moscou, que terminou no final do mês passado, o cineasta argentino-brasileiro Hector Babenco ficou impressionado com a quantidade de parentes que foi ao seu encontro na cidade.

"O que eu gostaria mesmo, agora, de fazer era um pequeno documentário sobre os Babencos que estão me procurando. Apareceu primo da Armênia, da Moldávia, de todo lugar", disse o diretor à Folha. Nascido em Buenos Aires e naturalizado brasileiro desde o final dos ano 1970, ele é filho de uma polonesa com um descendente de ucranianos.

Dos mais variados cantos da extinta União Soviética surgiram Babencos à sua procura: até Aliona Babenco, atriz que goza de certa fama no teatro e na televisão russa, quis conhecê-lo.

"Mesmo que não sejamos todos parentes, nos sabemos parentes porque temos o mesmo nome e a mesma vontade de saber mais uns sobre os outros. Afinal, às vezes tem um parente próximo que você não quer ver, não é mesmo?", resumiu Hector.

Grande família

Aliona, a atriz da "família", aproveitou a estadia do primo para levar a mulher de Hector, a atriz brasileira Bárbara Paz, para assistir à peça "Tempo das Mulheres", que protagoniza no teatro Sovremennik ("contemporâneo" em russo).

"Eu também dei a ele todos os meus filmes porque gostaria de saber o que ele acha da minha atuação", disse a russa.

Batizada como Baránova, ela recebeu o sobrenome do primeiro marido, o diretor de televisão Vitáli Babenco. "Também tenho Babenco na árvore genealógica, mas é uma história mais complicada. Acabei recebendo outro sobrenome quando nasci", contou.

"Ela tem uma cara ótima -e não fala uma palavra de inglês nem de francês, então a gente fica se olhando e dando risada", disse Hector. "O outro primo Babenco também não fala uma palavra de coisa nenhuma."

Capuz no tapete vermelho

Ainda na abertura do festival em Moscou, a cineasta russa Olga Darfi resolveu adentrar o tradicional tapete vermelho de maneira original: à la Pussy Riot.

Vestindo um capuz semelhante aos da banda punk feminina que foi detida depois de entoar numa das principais catedrais da cidade canções como "Virgem Maria, Livre-nos de Putin", Darfi declarou que o fez por "não gostar quando prendem pessoas ilicitamente".

No final do mês passado, a detenção das meninas do Pussy Riot foi estendida para até o próximo dia 24. Se condenadas, elas podem pegar até sete anos de prisão.

Cineastas e figuras diversas da cena cultural russa têm participado de abaixo-assinados e de demonstrações em prol do perdão das Pussy Riot.

O grupo norte-americano Faith No More, em turnê em Moscou no começo deste mês, contou com a participação de algumas das integrantes que estão em liberdade como sinal de protesto.

Enquanto isso, a Igreja Ortodoxa Russa preparou, no domingo passado, uma manifestação contra as pobres blasfemas punks em São Petersburgo.

Khodorkóvski Lacrimoso

O empresário e oposicionista político Mikhail Khodorkóvski, preso desde 2003 por acusações de fraude sonegação de impostos, já foi tema de filme propaganda para a televisão estatal russa e de um documentário, premiado no Festival de Berlim no ano passado. Agora, o ex-magnata do petróleo se tornou o centro do filme mais cafona do ano na Rússia. Com direito a "Lacrimosa", de Mozart, como tema musical, o trailer de "Cidadão Khodorkóvski" foi lançado, premeditadamente, no dia 26 de junho -aniversário do empresário.

Realizado pelo músico e diretor de clipes Serguêi Shiriaev, a obra mistura reconstituições escalafobéticas a entrevistas reais -como uma concedida por Serguêi Mokhnatkin, único preso político perdoado pelo ex-presidente Dmitri Medvedev.

Há no filme até clipe musical protagonizado pelo próprio

Shiraev. "Não queria fazer um filme de oposição. Mas, por algum motivo, assim que você tenta dizer a verdade neste país, automaticamente eles o consideram um opositor", diz, de maneira ensaiada, o diretor no início do trailer, que começa e termina com "Lacrimosa" e é de chorar de piegas.

"É medonho viver num país onde o mais simples e verdadeiro desejo de busca pela verdade se torna quase um crime."

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